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Da Redação
O empreendedorismo é cada vez mais forte entre os gaúchos. Conduzida pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) em parceria com o Sebrae RS, a terceira edição da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) revela que a taxa de empreendedorismo segue em alta no Rio Grande do Sul e passou de 26,3%, em 2018, para 36,5%, em 2020, índice maior que o brasileiro, que foi de 31,6%. Isso demonstra que o efeito da pandemia sobre os negócios estabelecidos no RS foi menos severo que na média brasileira. Em relação às economias da América Latina e Caribe, o Estado fica atrás somente da Guatemala (que tem 39,8%) na comparação com a taxa total. E apesar dos riscos e da crise, mais da metade da população (57,85%) percebe as oportunidades para abrir um negócio próprio nos próximos seis meses.
Com esse crescimento, o RS totaliza 2,7 milhões de empreendedores, enquanto no Brasil são aproximadamente 44 milhões dedicados a empreender. O levantamento mostra que um percentual elevado de empreendimentos nascentes (18,7%) está associado a serviços de catering, bufê e outros relacionados à comida preparada. Este tipo de serviço foi o que mais se destacou em relação aos empreendimentos novos, com 7%, enquanto entre os já estabelecidos, o maior percentual de empreendedores está associado aos serviços de construção (8,4%). Alimentação foi o grande destaque na criação de novos negócios em 2020. Com a pandemia, enquanto vários setores se retraíram, esses serviços de catering e de comida, especialmente via delivery, ganharam e ocuparam seus espaços.
“Os dados revelados pela pesquisa GEM mostram que os empreendedores gaúchos respondem aos desafios com resiliência e corroboram diretamente com o desenvolvimento do nosso Estado, gerando emprego e renda. Estamos juntos nessa trajetória, colaborando para a formação de um ambiente cada vez mais propício para a criação de novos e sólidos negócios, transformando a realidade econômica dos gaúchos”, destaca o diretor-superintendente do Sebrae RS, André Vanoni de Godoy.
Formalização
Além do avanço do empreendedorismo, o RS registra aumento da proporção de negócios formalizados. O levantamento mostra que passou de 31% (2018) para 50,4% (2020), o índice de formalização, superando a média nacional de 44,2%. Outro dado relevante da pesquisa GEM é que, no RS, há maior resiliência e preservação dos negócios estabelecidos, mesmo na pandemia. A taxa de empreendedorismo estabelecido foi de 14,8%, enquanto no Brasil ficou em 8,7%.
A pesquisa também apresenta a relação entre o nível de escolaridade do empreendedor e as atividades desenvolvidas. A conclusão é que houve uma tendência em ampliar o número de atividades conforme aumenta o nível educacional, partindo de 8 e 7, para o fundamental incompleto e completo, chegando a 15 e 12, para médio completo e superior completo ou maior, respectivamente. Outro dado é que entre os empreendedores com nível superior completo, surgiram atividades mais especializadas, sobretudo relacionadas às profissões liberais.
Sonho
O sonho de ter o próprio negócio está em ascensão no RS. A opção pelo item “ter o próprio negócio” passou de 27,6% para 54,5% e deixou de ser o terceiro sonho em 2018 para se tornar o segundo mais mencionado em 2020. Também foi significativa a diferença entre os percentuais para o sonho de ter o próprio negócio e o de fazer carreira em uma empresa – respectivamente 54,5% e 40,3% –, uma distância de 14,2 pontos percentuais.
Para os especialistas consultados pela pesquisa, a pandemia pode ajudar a explicar a ampliação da diferença desses percentuais. A perda expressiva de empregos, renda e negócios no Rio Grande do Sul, assim como aconteceu com os brasileiros em geral, pode ter tornado o negócio próprio mais frequentemente visto como viável e/ou atrativo. Empreender passa a ser encarado como solução para a superação de dificuldades financeiras e a oportunidade de busca de realização.
Inovação
Tema relevante pelo seu impacto no desenvolvimento, a inovação ainda tem um longo caminho a percorrer pelos empreendedores. A pesquisa GEM constatou um baixo nível de inovação e internacionalização dos negócios e os produtos considerados novos para o mundo atingiram a taxa de 1% entre os nascentes, 0,7% entre os novos e 0% entre os negócios estabelecidos. Com relação às características da inovação, daqueles que informaram que seu produto/serviço ou processo seria inovador para o mundo, os percentuais não ultrapassam os 3%, sendo maiores as taxas de inovação de processo dos empreendimentos estabelecidos de 2,9%.
Entre 65% e 94% dos empreendimentos de qualquer estágio, os produtos/serviços ou processos não eram novos em quaisquer das abrangências consideradas: local, nacional ou mundial. Esse cenário coloca o Rio Grande do Sul entre as economias com menor taxa de empreendedores iniciais com negócios de impacto em âmbito internacional. Para reverter a situação, uma das alternativas seria difundir as ações e programas para fomento ao empreendedorismo e à inovação para as regiões não centrais, interiorizando para todo o Estado, sobretudo na Metade Sul, fomentando novos ecossistemas, onde já há o desenvolvimento de ações junto ao Pelotas Parque Científico e Tecnológico, por exemplo.
Educação empreendedora
Na terceira edição da pesquisa GEM foi perguntado aos empreendedores nascentes, novos e estabelecidos do Rio Grande do Sul se tinham feito algum curso ou programa de educação em empreendedorismo. Os resultados mostram que em torno de 50% dos empreendedores em geral nunca frequentaram cursos ou programas de educação em empreendedorismo, oferecidos pelas instituições de ensino gaúchas. Isso demonstra que há um espaço a ser potencialmente explorado na formação e na capacitação dos empreendedores.
Além disso, em todas as categorias, foram raros os empreendedores que tiveram qualquer educação em empreendedorismo no ensino fundamental (0,8% a 2,1%). Esse índice aumenta um pouco mais no ensino médio (2,7% a 6,4%). Na educação superior, foi mais frequente a educação em empreendedorismo (13,7% a 18,3%), destacando-se entre os empreendedores novos. Diante disso, percebemos a necessidade de incentivar e difundir, em todo o estado, projetos de educação em empreendedorismo para o ensino básico, voltado ao desenvolvimento de competências empreendedoras.
Pandemia
A pandemia foi o principal motivo do encerramento de atividades no Rio Grande do Sul. De acordo com os dados, a crise da Covid-19 (38%) foi o motivo mais frequentemente citado para a descontinuidade de um negócio em 2020, seguido por razões pessoais ou familiares (19,3%) e falta de lucratividade no negócio (13,2%). A pandemia também pode ter impactado as razões pessoais ou familiares (como o adoecimento e a morte de pessoas da família, por exemplo) e a falta de lucratividade (com a diminuição da demanda).
Para apoiar na retomada, é importante a existência de sistemas de apoio e proteção da atividade empreendedora, entre os quais formas rápidas e descomplicadas de empréstimo bancário e orientação proativa vinda de órgãos públicos e do Sebrae RS. São consideradas ações ainda mais relevantes e necessárias nesses momentos para a preservação da resiliência e da qualidade de vida da população, pois negócios descontinuados deixam de empregar pessoas e distribuir renda.
Fomento ao empreendedorismo
A pesquisa GEM traz também sugestões para o fortalecimento do empreendedorismo no Rio Grande do Sul. Elas foram elaboradas com base em evidências e nas forças, fragilidades e ameaças, e nas recomendações feitas pelos especialistas entrevistados. Entre as alternativas, estão incentivar e melhorar a integração e coordenação entre os diferentes órgãos responsáveis pelo planejamento, implementação e monitoramento dos programas de apoio ao empreendedorismo e à inovação, com o objetivo de fortalecer as cadeias produtivas do Estado, suas relações com as startups e o setor de alta tecnologia.
Também foi apontada a necessidade de fortalecer a cultura empreendedora por meio do desenvolvimento da visão e competências empreendedoras, com a participação das secretarias estadual e municipais de Educação e desenvolver ou aperfeiçoar programas de acesso e financiamento à tecnologia e inovação para os pequenos empreendimentos. Outra medida é o estabelecimento ou fortalecimento de parcerias com organizações como o Sebrae RS e com as universidades, no intuito de promover a capacitação das micro e pequenas empresas, para que possam obter apoio profissional de qualidade com preços e condições mais adequadas a cada uma delas.
Empreendedorismo feminino
O impacto da pandemia foi maior entre as mulheres empreendedoras. O levantamento do GEM revela que houve uma queda de 25% dos empreendimentos estabelecidos por mulheres de 2018 para 2020, contra 2,4% entre os homens. No entanto, considerando-se o gênero e a motivação dos empreendedores iniciais foi constatado que para ambos os sexos a orientação foi maior por oportunidade, sendo 60,3% dos homens e 55,2% das mulheres.
As atividades mais frequentes entre as mulheres empreendedoras são serviços de catering, bufê e outros serviços de comida preparada (13,9%), seguido de comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios (9,6%) e cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza (8%). A pesquisa mostra que ainda há falta de equidade entre o empreendedorismo feminino e o masculino, com razões de 1,3 – para cada 100 mulheres existem 130 homens – para o empreendedorismo inicial e 2 para o estabelecido.
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