Alerta foi feita pelo economista Eduardo Giannetti durante o 5º Fórum de Gestão Pública em Porto Alegre
Da Redação
Porto Alegre – Para abordar os novos desafios da Gestão Pública, o economista, cientista social, PhD em Economia pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), Eduardo Giannetti da Fonseca, trouxe aos prefeitos e gestores públicos presentes no 5º Fórum de Gestão Pública, um enquadramento mais macro da realidade do Brasil. O evento ocorreu na terça-feira, dia 4 de dezembro, em Porto Alegre, e reuniu mais de 400 pessoas no Centro de Eventos do Plaza São Rafael.
Durante sua fala, Giannetti apresentou quatro atitudes necessárias ao bom gestor. A primeira refere-se ao poder de liderança do prefeito, buscando recursos latentes e investindo em prioridades. Para isso é necessário aproximar-se do terceiro setor, daquelas pessoas com alto poder aquisitivo e que estejam dispostas a investir em lifantropia. “É preciso evitar a acomodação e a burocratização”, disse Gianetti. Outro aspecto referido é a transparência: usar em sua plenitude o recurso arrecadado e comprovar esse investimento. Metas e monitoramento na execução e implementação das ações foi o terceiro aspecto levantado pelo economista.
A última e mais importante ação que um prefeito deve colocar em prática em sua cidade é melhorar a qualidade do Ensino Fundamental. Uma de suas sugestões para estimular este aspecto é premiar as escolas que apresentarem resultados positivos e investigar e corrigir aquelas que ficaram aquém. “O envolvimento da família é fundamental neste processo, pois em ela nenhuma prática adotada pelo poder público terá eficácia suficiente”, ressaltou.
Retrato brasileiro
Antes de abordar estes quatro itens que dizem respeito diretamente à administração municipal, Eduardo Giannetti apresentou situações e dados referentes ao Brasil, e como isso pode influenciar na realidade dos municípios de todo o País. Segundo o cientista social, depois do Plano Real o Brasil recuperou sua confiança e as perspectivas de futuro são otimistas. Mas o que melhorou? Giannetti levantou três aspectos: a capacidade de enfrentamento da crise financeira de 2008, que em muitos países europeus ainda resiste; o processo de correção da desigualdade social iniciado a partir de 2003. Até hoje entre 35 e 40 milhões de brasileiros mudaram sua categoria de renda migrando para a nova classe média; e o momento demográfico favorável pelo qual passa o Brasil, já que a população triplicou em 45 anos passando de 50 milhões para 150 milhões. Neste último item ele acresce a taxa de fecundidade que passou de 5 a 6 filhos por mulher nos anos 50/60, para 2 a partir dos anos 90.
“Estamos com uma população em idade de trabalho (15 a 64 anos) muito grande e temos que aproveitar este momento para crescer, agregar valor e formarmos nosso capital humano. Caso contrário, em 20 anos, a taxa de dependentes será muito alta e não teremos força de produção para sustentar essa população”, refletiu. Ainda de acordo com Giannetti, o Brasil investe muito pouco em formação de bens de capital – apenas 19% do Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto países com alto poder de crescimento investem 30, 35 e até 40% do seu PIB. “O Ibope divulgou pesquisa em julho deste ano com relação à taxa de analfabetismo funcional brasileira e, pasmem, 38% dos egressos do Ensino Superior são analfabetos funcionais. Conclusão: uns fingem que ensinam, outros fingem que aprendem e tudo vira em diploma”, comentou. Para Gianetti, não basta universalizar o Ensino Fundamental no papel. A nova classe média brasileira vai demandar credencial educacional e deve haver preparação.
Finanças Públicas municipais
Segundo Giannetti, devido sua origem o Brasil é um país que inverteu a lógica. Ao invés do Estado servir a sociedade é a sociedade que serve ao Estado. Um exemplo citado pelo palestrante são os mais de 60 mil vereadores do País. “É como se a sociedade existisse para financiá-los e não para aplicar seu recurso em saúde e educação”, disse.
Outro aspecto levantado por Giannetti é o atual sistema de arrecadação e distribuição dos recursos públicos. “Não tem sentido e não é justo o dinheiro ir para Brasília e depois voltar aos municípios, isso dá margem para a corrupção”, alertou. Segundo ele, a receita é simples: os recursos devem ser feitos mais próximos possíveis de onde eles foram arrecadados.
O Fórum de Gestão Pública foi realização do Sebrae/RS, com apoio da Fecomércio e da Secretaria do Gabinete dos Prefeitos e Relações Federativas.