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Desenvolvimento

O Pampa que eu quero para o futuro

atualizado em: 07/11/18
Davi Teixeira

Davi Teixeira

Sócio Diretor SIA | Coordenador Alianza del Pastizal – Brasil | Consultor SEBRAE-RS / Programa JPC

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Este é o novo Pampa Gaúcho, e é sobre este novo mosaico que precisamos nos debruçar e trabalhar por ambientes de produção sustentáveis ecológica e economicamente

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Não é “o Pampa que sonhei para o futuro”. Porque este já não volta mais. Tenho que construir um novo sonho debruçado sobre uma nova realidade. E não estou aqui para julgar erros e acertos. Apenas para construir um novo horizonte, ainda passível de implementação efetiva. O nosso bioma Pampa, que um dia já foi uma grande manta de campo natural contornada de cênicos bordados de matas igualmente nativas, hoje se apresenta como um grande mosaico ora bonito, ora nem tanto, de lavouras, pastos cultivados e remanescentes vegetacionais originais.

A paisagem e a matriz de uso da terra se modificam, e com elas a dinâmica dos modelos de produção, com reflexo direto no mercado e no resultado potencial e real das operações. Estamos falando, sobretudo, de carne bovina, soja e arroz. Num rápido apanhado, podemos perceber algumas mudanças e seus impactos:

  1. A pecuária alicerçada em campos nativos, sem combinação com espécies de inverno, resultava na fome do gado de cria e na sanfona do boi de invernada entre julho e outubro. De alguns anos para cá, a “superoferta” de gado gordo no RS se dá exatamente no final do inverno, e até as vacas amadas têm ganhado cada vez mais espaço nos horizontais pastinhos de azevém que andam por aí. Considerável avanço.
  2. O arroz, cultura apaixonante e de grande potencial de geração de riqueza, mas historicamente enredado num modelo tecnológico de monocultura e excessivo preparo de solo, com alto custo e baixa sustentabilidade, sente a cada ano o impacto das décadas passadas, e está muito perto de se render a uma grande e necessária transformação, compartilhando espaço em arranjos produtivos infinitamente mais resilientes com soja e pecuária de corte. Oceânico avanço.
  3. A soja, sim, a SENHORA SOJA. É ela quem vem tirando a fome invernal da pecuária do Pampa. É ela quem vem tirando a fome do solo degradado das várzeas e apontando um novo Norte para um modelo de produção de arroz sustentável, que salvará o solo e o “negócio arroz” ao mesmo tempo. Isso se tiver a nobreza de perceber que também precisa das pastagens, também precisa da pecuária, para seguir forte em solos de pouca argila. Não sou amante da soja, mas não sou cego. Notável avanço.

São os fatos. Não é o Pampa que sonhei um dia, encilhando de madrugada com meu avô para repontar os bois sanfona e as vacas amadas. Este é o novo Pampa Gaúcho, e é sobre este novo mosaico que precisamos nos debruçar e trabalhar por ambientes de produção sustentáveis ecológica e economicamente. Ao mesmo tempo. Isso é possível? Como?

SIM!!! Isso é bem possível através da aplicação prática e efetiva do conhecimento já disponível – em nível científico, técnico e tecnológico – para o desenvolvimento de sistemas integrados de produção agropecuária (SIPA). Isso significa, em outras palavras: a conservação do remanescente de vegetação natural (campos e matas) e sua biodiversidade; a verticalização sustentável da produtividade e rentabilidade das áreas agricultadas com sistemas de integração lavoura-pecuária de verdade; a melhoria global da fertilidade do solo através:

  1. Do não revolvimento;
  2. Do maior aporte de carbono pela rotação e sucessão com pastagens;
  3. Da aceleração da ciclagem de nutrientes promovidos pelos animais em pastejo.

Além de tudo isso, vamos experimentar o grande trunfo que o “mundo dos SIPA” nos oferece, no fim das contas: produzir MAIS com MENOS. Ou seja, deixar de trabalhar apenas para (tentar) pagar as contas, e sim passar a experimentar o LUCRO.

Pampa integrado

Paisagem com ordenamento territorial de produção e conservação, sistemas integrados de produção com planejamento espaço-temporal de uso do solo, rebanhos com plano forrageiro global e específico por categoria animal, gestão técnica e financeira integrada entre pecuária e agricultura. Arroz em modelo tecnológico que não revolve mais o solo e compartilha o espaço, soja que faz rotação com pastos de verão e não apenas sucessão com azevém. Agricultura com maturidade suficiente para entender que existem caminhos viáveis de reduzir o uso de químicos sem prejuízo da produtividade e com aumento do lucro. Bioma conservado com campos melhorados e pecuária eficiente.

Não sei se é sonhar demais, mas esse é O PAMPA QUE EU QUERO PARA O FUTURO. E sei que é possível, por isso me atrevo a sonhar e me empenho para que se torne realidade o quanto antes. O Programa Juntos para Competir (Sebrae/Senar/Farsul) será uma mola propulsora dessa transformação no RS. Anotem aí. Eu acredito.

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