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Andrés Delgado Cañedo
Professor da Universidade Federal do Pampa – Campus São Gabriel
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Em artigo recente, publicado na revista Bee World, e também durante sua palestra no XIII Congresso Latinoamericano de Apicultura, o engenheiro Norberto Garcia Girou, presidente da Organização Internacional de Exportadores de Mel (IHEO), realizou um estudo estatístico sobre a situação atual do mercado internacional de méis. Nesse estudo, Girou levanta o alarmante crescimento da entrada do “mel” asiático em cinco países exportadores de mel (Bélgica, Itália, Polônia, Portugal e Espanha), que, conscientemente, aumentaram o volume de mel exportado de forma altamente correlacionada. Cabe ressaltar que, desta vez, o mel não estaria sendo falsificado, e sim produzido por uma técnica conhecida como “quick honey”, ou mel rápido, que consiste em colher o néctar depositado nos favos diariamente, ou seja, sem deixar maturar, e fazendo a desidratação do mesmo em “fábricas”. Com esse processo os volumes de “mel” produzido por colmeia aumentam consideravelmente e derrubam o preço internacional do mel convencional, afetando os apicultores tradicionais.
O que Garcia Girou destaca/critica não é o fato de este mel ser falso, mas o fato de que não poderia ser considerado MEL, pois a definição do Codex Alimentarius de 1981 define mel como “a substância doce natural produzida pelas abelhas melíferas a partir do néctar ou secreções de plantas que são coletadas pelas abelhas, transformado por substâncias específicas adicionadas pelas próprias abelhas, depositada, desidratada e armazenadas para amadurecer nos favos”. Desta forma, este processo de amadurecimento do mel em fábricas tiraria o produto do conceito internacional que define o mel.
Entretanto, surge a pergunta: o que podemos fazer para não perdermos mercado perante este “mel rápido”? A resposta está no levantamento dos volumes de mel exportados a granel. As análises de Girou dividiram os países em seis grupos. No grupo 1 aparecem os países asiáticos com o maior incremento no volume de mel negociado; no grupo 2 estão os países europeus que aumentaram os volumes de mel exportados, mas que também importaram na mesma medida um maior volume de mel dos países do grupo 1; no grupo 3 estão os países com grande volume de importação de mel para envasar e exportar, como são os casos de Alemanha, Estados Unidos, França e Austrália (estes países não aumentaram o volume de mel exportado); no grupo 5 se encontram os países tradicionalmente exportadores de mel a granel como Argentina, México, Uruguai e Ucrânia, entre outros, que tiveram diminuição nos volumes exportados; e no grupo 4 estão Nova Zelândia e Brasil, que não tiveram grandes alterações na comercialização do seus méis. No caso da Nova Zelândia, o carro é puxado pelo famoso mel de Manuka, vendido a aproximadamente 20 dólares a tonelada, e no caso do Brasil o mercado foi mantido a partir da comercialização de mel com certificação orgânica, comercializado em média a 3,8 dólares a tonelada (os valores em dólares publicados por Garcia Girou correspondem a 2016).
Nos dias 31 de julho e 1º de agosto aconteceu o 1º Workshop da Solatina (Sociedade Latinoamericana de Investigadores de Abelhas), precedendo o Congresso Latinoamericano de Apicultura. No grupo de trabalho sobre aumento do valor agregado dos produtos apícolas ficou clara a necessidade do estímulo à produção de méis monoflorais e, principalmente, seu desenvolvimento pela academia para dar visibilidade internacional. O Chile tomou a dianteira com o Mel de Ulmo em 2010 e já tem quatro artigos internacionais publicados. Está na hora de começarmos os trabalhos com méis monoflorais brasileiros, de preferência certificados como orgânicos, da mesma forma que foi feito com as própolis Verde e Vermelha para aumentar o valor agregado do produto, ou pelo menos para não perder mercado perante os “quick honeys”.
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