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Roselaine Monteiro Moraes
Gestora de Políticas Públicas Sebrae RS
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O empreendedorismo é uma temática que vem sendo amplamente discutida não somente no meio empresarial e nas universidades, mas também tem sido pauta nos bancos da escola. No Brasil, o tema na Educação Básica, embora tímido, já é realidade em todos os Estados por meio dos projetos do Sebrae. Em 2017 mais de 800 mil alunos foram envolvidos com os conceitos e práticas empreendedoras.
Em 2014, o Ministério da Educação desenvolveu o Manual Operacional de Educação Integral do Programa Mais Educação, propondo a temática do Empreendedorismo na Educação Básica, mediante o componente curricular Economia Solidária e Criativa / Educação Econômica (Educação Financeira e Fiscal). Essa temática previa atividades que pudessem ensinar – por meio de práticas com intencionalidade pedagógica que estimulassem a criatividade – o exercício do protagonismo e do olhar para o uso responsável e sustentável dos recursos naturais e materiais, atributos que possibilitam maior consciência sobre ser e estar no mundo, respeitando espaço físico, gestão e currículo.
Nesse sentido, o empreendedorismo na educação encontra terreno fértil na medida em que pode ser encarado como uma disciplina a ser aprendida, já que na visão Peter Drucker não se nasce empreendedor pronto. A educação para o empreendedorismo pode ser vista como um estilo de vida e não necessariamente um aprendizado para se tornar um empresário. Vai além, principalmente sob o ponto de vista de construir o seu próprio caminho, buscando maneiras que visem à resolução de problemas e ao protagonismo dos indivíduos.
Aprender pressupõe alcançar um conjunto de competências que envolve habilidades, conhecimentos e atitudes. Jaques Delors, em 1996, propôs alguns saberes para a educação do século 21 apontando quatro dimensões acerca de aprendizagens que podem ser úteis para a apreensão de tais competências: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver.
Tais saberes constituem elementos como a descoberta, a compreensão e o conhecimento, presentes na dimensão do aprender a conhecer. A prática, a ação e o aprender por experiência estimulam um pensamento produtivo perfazendo a dimensão do aprender a fazer. Os sentimentos, as emoções e o significado para o indivíduo constituem a dimensão do aprender a ser. Já a dimensão do aprender a conviver se fundamenta pela convivência, sociabilidade e foco numa aprendizagem coletiva. Essas dimensões se apresentam como essenciais ensinamentos para a vida e podem ser exercitadas desde o Ensino Fundamental.
Em 2004, um estudo do Projeto Regional de Educação para a América Latina e o Caribe (Prelac) identificou um quinto pilar, o aprender a empreender, destacando o ensino sobre empreendedorismo como uma importante dimensão a ser aprendida. Nesse sentido, Dolabela e Fillion (2013), especialistas no tema que defendem o aprendizado sobre empreendedorismo desde cedo (ainda em idade escolar), desenvolveram a Pedagogia Empreendedora (PE), uma metodologia de ensino do tema para alunos entre 4 e 17 anos.
Tal metodologia foi implementada em 2003, em parceria com o Sebrae, em 86 escolas de Educação Básica, do Paraná, com a intenção de trabalhar o pensamento imaginativo. Segundo os autores, a Pedagogia Empreendedora “trata o empreendedorismo como uma forma de ser e não somente de fazer, transportando o conceito que nasceu na empresa para todas as áreas da atividade humana”.
Iniciativas sobre a introdução dos conceitos de empreendedorismo podem ser vistas em alguns países. A Finlândia, por exemplo, é reconhecida por ter a melhor educação do mundo e investe maciçamente na Educação Básica desde a década de 70, quando abriu as escolas oferecendo oportunidades iguais para todas as crianças, sem distinção de classe social. A carreira de professor é a profissão mais prestigiada no país. Não por acaso é destaque em qualidade de ensino, qualificação dos professores e atualização de currículo. A autonomia dos professores para planejamento e métodos de estudos é valorizada, e eles trabalham de modo que possam levar para seus alunos “um pensar” sobre a importância da autorrealização e da felicidade profissional, de saírem do ensino profissionalizante se vendo como empreendedores e criando seu próprio futuro.
Nas escolas finlandesas, o foco é no aprendizado do aluno. Provas e carga horária foram reduzidas. O aluno precisa relaxar e ter prazer em criar e aprender raciocinando de forma independente, sem apelo para “decorar provas”. Aulas de inovação e empreendedorismo fazem parte do currículo.
Confira algumas dicas dos educadores finlandeses que podem facilitar tanto o aprendizado dos alunos quanto o das próprias instituições escolares:
Criação de Projetos
Nas salas de aula da Finlândia, alunos desenvolvem projetos buscando a resolução de problemas (problem-based learning). Isso promove interação entre os alunos que se sentem motivados, com o aprender fazendo.
Alunos produzindo conteúdo
Como forma de gerar protagonismo, os alunos são incentivados a produzirem e exporem o conteúdo, enquanto no Brasil, via de regra, é o professor que faz tudo.
Avaliação, autoavaliação e coavaliação
Numa abordagem de desenvolvimento de projetos, a medição de aprendizado ganha olhares não somente do professor, mas também do aluno, que tem a possibilidade de avaliar o seu desempenho e também avaliar o desempenho dos colegas.
Tecnologia como ferramenta
O uso de celulares em sala de aula pode deixar de ser uma “dor de cabeça” para professores e coordenadores. Os celulares podem ser bons aliados e ferramentas de apoio que gerem interação e aprendizado. Exemplo: jogos, aplicativos, quiz, nuvem de palavras. Isso pode tornar a sala de aula mais interessante. Em vez de proibir celular, usá-lo a favor de todos.
Novas habilidades para o século 21
O conteúdo continua tendo muita importância no contexto do conhecimento. No entanto, a capacidade de interação, de comunicação, de um pensar crítico e criativo, e a adoção de comportamento e atitudes empreendedoras propiciam a formação de um aluno mais proativo do que passivo frente às situações em que irá se deparar.
Mais recreio
Na Finlândia, paradas de 15 minutos após cada período aliviam a tensão e revigoram tanto alunos como professores, gerando maior produtividade.
Escola – empresa
Empresas em parceria com a escola, tendem a ganhar profissionais do futuro mais qualificados e antenados em termos de organização e comunicação. Os alunos enxergam mais sentido na medida que desenvolvem projetos feitos em sala de aula e que dialoguem com a realidade do mundo do trabalho.
Maior interação entre professor e aluno
Não basta ter professores que promovam a aprendizagem e autonomia do aluno. O professor precisa, cada vez mais, estar ligado à noção de promoção de capacidades e da identificação das habilidades e limitações dos seus alunos. Isso exige do professor uma maior dedicação no planejamento e desenvolvimento de atividades que promovam a sua interação direta com os alunos, possibilitando maior relacionamento e conhecimento do seu educando.
Alguma similaridade com as propostas de educação da Finlândia, assim como as indicações de especialistas que versam sobre empreendedorismo, já pode ser vista em uma das diversas iniciativas existentes em escolas do RS. Campo Bom mostra a relevância do tema na educação formal e suas possibilidades em formar cidadãos capazes de serem donos de suas escolhas.
Recentemente, o município foi premiado pelo Projeto “De Olho no Futuro” na categoria Empreendedorismo nas Escolas do Prêmio Prefeito Empreendedor, promovido pelo Sebrae. Além disso, foi reconhecido também com o Prêmio Gestor Público do Sindifisco.
O De Olho no Futuro, criado em 2017, nasceu com objetivo de desenvolver a educação empreendedora nas escolas, mostrando ao educando o “mundo de possibilidades” no momento de escolher uma profissão. Explorando diferentes áreas, o projeto leva em consideração ética, respeito, sustentabilidade e a importância da educação formal, visando à qualificação profissional para sua inserção no mercado de trabalho e estimulando nos alunos o senso de criatividade, persistência, comprometimento, disciplina e autoconfiança.
A Administração Pública, ao perceber o déficit de qualificação de jovens que se encontravam na eminência de adentrar no mundo do trabalho, buscou uma forma de orientar e qualificar este público, que passa pela difícil fase de transição entre a escola e uma ocupação profissional. Assim, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico identificou, por meio de feedback das empresas locais, a mesma preocupação com a falta de capacitação dos jovens.
Em paralelo, a Secretaria Municipal de Educação constatou a preocupação dos pais com a inserção dos filhos em atividades laborais. Com esses dados e informações, as duas secretarias organizaram um projeto, que seria executado conjuntamente e que ofereceria aos alunos, da rede municipal de ensino, uma perspectiva positiva para inserção no mundo de trabalho através da educação empreendedora. Assim, pelo projeto, foram disponibilizados cursos em diferentes segmentos, além da oferta de 23 vagas, nesta edição (2017), para ingresso no Programa Jovem Aprendiz nas empresas parceiras.
Tal projeto ressalta o comprometimento social com os alunos. Os jovens que estavam prestes a entrar no mercado de trabalho se mostravam sem perspectivas de conquistar uma boa posição profissional, muitas vezes, ingressavam no 1º ano do Ensino Médio em escola estadual e não concluíam. Evadem por motivos diversos, entre eles, falta de conhecimento das opções existentes ou mesmo por estarem despreparados para esta transição. Como exemplo, em 2015 ingressaram 1.130 alunos no 1º ano do Ensino Médio da rede estadual e, dois anos após, apenas, 579 concluíram o 3º ano, representando 51% os concluintes.
No município e região predomina a indústria calçadista, que se manifestou alegando muita dificuldade de encontrar mão de obra qualificada de jovens, e ainda que estes se mostram desinteressados pelo setor, sendo que há uma demanda reprimida. Os empresários consideram a necessidade de empregar, mas afirmam que faltam candidatos aptos a ocuparem as vagas.
Assim, a preocupação foi mostrar inúmeros caminhos a estes jovens, destacando as oportunidades no setor calçadista, que atualmente detém 33% da economia do município.
Por meio da matriz do Projeto De Olho no Futuro, foram propostas às escolas da rede municipal, várias ações para promover o comportamento empreendedor, como a metodologia Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP), do Sebrae (especificamente nos anos finais do Ensino Fundamental). O JEPP incentiva os alunos a buscarem o autoconhecimento, novas aprendizagens, além do espírito de coletividade.
A ideia é a de que a educação deve atuar como transformadora desse sujeito e incentivá-lo à quebra de paradigmas e ao desenvolvimento das habilidades e dos comportamentos empreendedores, e culmina na formulação de planos de negócios. No projeto, esses planos foram submetidos a uma banca avaliadora. Os melhores projetos foram premiados com a bolsa do Programa Jovem Aprendiz nas empresas locais (Softer Brasil Compostos Termoplásticos, FCC Indústria e Comércio, Azul Safira Importação e Exportação, Aniger Calçados Suprimentos e Empreendimentos, Vercelli Indústria e Comércio de Calçados, Kazan Indústria e Comércio e Arezzo & CO), garantindo vagas a 23 alunos, assim como bolsas para curso de informática. O projeto “Comunidade na Escola” foi o vencedor com o tema Empreendedorismo Social (conteúdo do curso JEPP para o 8º ano – ensino fundamental) e será colocado em prática pelo poder público em 2019.
O SENAI foi parceiro ofertando oficinas sobre empreendedorismo com o objetivo de gerar aprendizado sobre a criação de novos empreendimentos nos mais diversos setores, propiciando conhecimento sobre a importância do empreendedorismo para a economia e na geração de emprego e renda.
A Escola de Sapateiro – Projeto do Sindicato dos Sapateiros, ofereceu diversas oficinas ensinando noções básicas sobre produção de calçados.
A universidade FEEVALE, com seu aporte científico, intelectual e tecnológico, colabora efetivamente na medida em que prepara esses jovens desde suas aptidões até o incentivo de uma formação não somente técnica, mas também acadêmica.
O universo das ações empreendedoras do De Olho do Futuro vai além de noções de abertura e gestão de empresas (econômico e financeiro), mas, sobretudo, alcança objetivos sociais e transforma realidades. Compreender a importância da inovação e da sustentabilidade é também um objetivo a ser perseguido, o que somente é possível por meio de uma nação empreendedora.
Além do projeto De olho no Futuro, a Educação Empreendedora é estimulada por meio do Projeto de Educação Fiscal “Aluno informado, cidadão consciente”, que promove as Feiras de Economia Solidária, que consistem em oportunizar momentos para que as famílias, nas escolas de seus filhos, tenham a possibilidade de comercializar seus produtos artesanais com a finalidade de auxiliar na renda familiar, estimulando assim o empreendedorismo nas famílias, refletindo no engajamento dos jovens.
Deste modo, a educação empreendedora permite que alunos, pais e professores desenvolvam melhor sua comunicação, produzindo, com clareza, alternativas que estimulem o desenvolvimento humano, aumentando as chances de se desenvolverem líderes e jovens que saberão lidar melhor com seus problemas. O empreendedorismo dentro das escolas prioriza o desenvolvimento das pessoas.
De acordo com o Prefeito Luciano Orsi, “o reconhecimento do Programa De Olho do Futuro, é de suma importância, uma vez que se lança o olhar para o futuro dos jovens-campobonenses. A participação efetiva do município e dos parceiros tem sido fundamental para que se oportunize aos jovens a possibilidade de vislumbrar novas perspectivas para seu futuro”, conclui Orsi.
O De Olho no Futuro é uma iniciativa que demonstra a força do empreendedorismo na educação formal. O envolvimento dos parceiros fortalece as ações à medida que atendem às demandas do município, gerando emprego e renda, ensinando uma profissão e acima de tudo realizando a manutenção dos jovens para que busquem o seu crescimento e desenvolvimento, independentemente se serão empresários ou não, mas sobretudo sendo protagonistas de suas vidas e de suas escolhas.
>> Confira a bate-papo online da secretária de Educação de Campo Bom, Simone Schneider.
Para saber mais sobre a revolução da educação da Finlândia, acesse:
http://cer.sebrae.com.br/como-a-arquitetura-esta-impactando-o-ensino-na-finlandia/
https://www.youtube.com/watch?v=Bj9ciijbMj8
https://www.youtube.com/watch?v=oXmOkMj9vyU
https://www.youtube.com/watch?v=z3XSelsXEH8
Para saber mais sobre indicadores de educação, acesse:
http://datasebrae.com.br/perfil-dos-municipios-gauchos/
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