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Debora Chagas
Coordenadora Estadual da Startups e Economia Digital do SEBRAE RS
A China se tornou uma potência de crescimento econômico nas últimas décadas e, se antes era associada a produtos falsificados e de baixa qualidade, hoje se destaca no desenvolvimento de ecossistemas de empreendedorismo e de inovações tecnológicas. Com suas políticas de incentivo à criação de novas empresas que atuem na área de alta tecnologia, ela se tornou o país que mais cria bilionários no planeta, passando a ter o mesmo destaque dos Estados Unidos nesse cenário da economia. O Vale do Silício, como é conhecida a região da baía de São Francisco (na Califórnia), que abriga várias empresas de alta tecnologia, passou a ter do outro lado do mundo seus maiores concorrentes.
Todo esse avanço chinês não veio por acaso. Para alcançar essas conquistas, a China rompeu com modelos antigos de governança e adotou políticas que transformaram sua economia. Foram feitos grandes investimentos em educação, sendo ela hoje a maior formadora de PhDs do mundo, e também foram desenvolvidos centros voltados para aplicação da ciência, como parques tecnológicos e regiões de inovação mais integrados.
Visando impulsionar a criação de startups, o governo passou a oferecer medidas de grande apoio em algumas regiões, como suporte para empréstimo com taxas reduzidas, aluguéis gratuitos para startups em fase nascente e até políticas de reembolso para investidores em caso de fracasso. Com isso, a China criou ambientes muito atraentes para quem buscava investir na área, o que resultou em grandes empresas como Tencent Music e Mobike.
Nesse cenário de inovações, destaca-se a revolução tecnológica chinesa em uma área específica de startups: as financeiras, conhecidas como fintechs. E para entender como isso aconteceu é necessário compreender todo o contexto social da época. Com o aumento do PIB chinês nos últimos anos, houve um aumento da renda da população, que também passou a ter disponíveis smartphones de alta qualidade. Isso criou um público de 772 milhões de chineses com acesso fácil à internet móvel e que também passou a realizar pagamentos via celular.
Assim, desde 2012 esse tipo de pagamento cresce em média 165,3% ao ano na China e só em 2016 movimentou US$ 22,8 trilhões. E quem se aproveitou disso foram as fintechs, pois os bancos na China sempre foram distantes da população pobre e de classe média, e os chineses se acostumaram a não utilizar serviços bancários. Então, quando passaram a realizar pagamentos on-line, foram atraídos por empresas novas com mecanismos modernos e simplificados, como a Alipay (uma espécie de PayPal Chinesa) e o WeChat (que possui multifuncionalidades, desde chat e rede social a operações financeiras). Pode-se dizer que essas duas fintechs transformaram a economia de um país de 1,38 bilhão de habitantes, já que agora 60% dos pagamentos na China não são mais com dinheiro físico, e estima-se que até 2030 ela deixe de utilizá-lo completamente.
Toda essa transformação da economia chinesa e sua ascensão como gigante das startups é digna de se extrair aprendizados por parte dos governantes brasileiros e também dos nossos empreendedores. Políticas voltadas à melhoria de estruturas sociais, investimentos públicos, facilitação governamental e esforços anticorrupção são algumas das medidas governamentais chinesas que servem de grande exemplo para o governo brasileiro.
Já para os empreendedores daqui que almejam abrir um negócio de tecnologia, fica a lição do foco e empenho das startups chinesas, que ficaram atentas à carência e à necessidade do seu mercado e desenvolveram mecanismos que facilitaram a vida de sua população, preocupando-se também em desenvolver tecnologias que permitissem abaixar os custos dos produtos, aumentar a eficiência da produção e garantir uma melhor experiência do usuário.
O Brasil tem muitas características que o favorecem para ser um grande mercado de startups, já que, além de ter jovens com muita vontade de empreender, também conta com uma densidade e demanda que viabilizam muitos modelos de negócios. Aplicar medidas e iniciativas espelhadas em potências que apostaram e atingiram sucesso nesse caminho só vem a facilitar mais o desenvolvimento do empreendedorismo nacional.
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