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Laura Severo da Cunha
Gestora de Educação e Saúde Funcional
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Pacientes de longa permanência ocupam cerca de 25% dos leitos hospitalares (ANAHP). A transição demográfica e epidemiológica tende a aumentar o número de pacientes idosos, bem como as doenças crônicas limitantes ampliam essa estatística. No Brasil, um país de escalas continentais, o desafio da saúde é ainda mais complexo diante de dificuldades da gestão pública e da escassez de recursos. A discussão sobre o tema desospitalização parece girar em torno do financiamento pós-alta desses pacientes. Dessa maneira, não está sendo tratada a causa da longa permanência, mas sim a sua consequência.
A revolução tecnológica e o desenvolvimento do recurso humano nas duas últimas décadas têm sido capazes de reverter situações clínicas críticas, mas sem garantir bons resultados de saúde funcional. Medidas habituais de qualidade e segurança em saúde incluem a avaliação preventiva de riscos. Entretanto, o gerenciamento do risco de declínio funcional ainda não está formalizado como processo hospitalar essencial, apesar de bem estabelecido na literatura científica. Pacientes com idade extrema, déficit funcional prévio, desnutridos e com prejuízo cognitivo são claramente mais propensos à perda de função. Da mesma forma, a dependência forçada, a desorientação no tempo e no espaço, a polifarmácia e o baixo incentivo à autonomia, inerentes ao processo de hospitalização, levam a incapacidades proporcionais ao tempo de exposição.
As principais razões que justificam a longa permanência hospitalar estão representadas pela dependência ventilatória e pela necessidade de alimentação por via alternativa. Assim, é possível dizer que as causas que mantêm os pacientes internados por longos períodos são de ordem funcional, e não clínica. As incapacidades funcionais demandam tratamentos longos e conservadores que, por sua vez, dispensam estruturas de alta complexidade. Contudo, o contrário não é sinônimo de pouca relevância; a baixa complexidade pode prevenir a reinternação causada por disfunções malconduzidas.
A discussão acerca do financiamento dos pacientes dependentes no pós-alta se justifica diante do modelo remuneratório que ainda valoriza o volume e intervenções complexas. Da mesma maneira, os hospitais, assim como qualquer outra empresa, precisam sobreviver e, para tanto, continuam a investir em unidades de terapia intensiva, de imagem e cirúrgicas. É passivo que o lucro em saúde está diretamente relacionado à prescrição de fármacos, exames e às cirurgias de grande porte.
Assim como o desmame do respirador artificial, a alta hospitalar segura deve se iniciar no momento da admissão, antes do estabelecimento da dependência. Este modelo de desospitalização com foco no resultado assistencial de longo prazo pode parecer simples, mas requer uma transição da lógica remuneratória a favor da integralidade e por meio do desenvolvimento horizontal dos profissionais da saúde, resultando em um paradigma centrado no paciente. A inovação já valoriza o simples, é hora da saúde fazer o mesmo.
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