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Roger Scherer Klafke
Coordenador Estadual de Alimento e Bebidas do SEBRAE RS
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Dentre as novidades apresentadas na feira ANUGA de 2019 (considerada a maior feira de A&B da Europa e realizada em Colônia, na Alemanha), as proteínas alternativas e o uso da cannabis chamaram a atenção do público. Muitas startups estão dedicadas a desenvolver produtos alinhados a estas tendências, e lançamentos pensados a partir desses insumos também ganharam destaque especial no “Taste Innovation Show”, espaço bastante disputado na feira, dedicado a premiar e apresentar os produtos mais inovadores do mercado de alimentos e bebidas.
Segundo pesquisas apresentadas na feira, a projeção para o chamado “mercado de proteínas alternativas” é de crescimento anual aproximado de 25% na próxima década, chegando ao valor de 85 bilhões de dólares até 2030. Talvez se possa explicar essa expressiva projeção com os números de crescimento de veganos e vegetarianos. Nos Estados Unidos, o número estimado de pessoas que se consideram veganas cresceu mais de 600% nos últimos três anos, e no Brasil em torno de 14% da população se denomina vegana.
No segmento de proteínas alternativas, muitas startups invadiram a feira apostando nos produtos desenvolvidos a partir de insetos comestíveis. O consumo de insetos, que não é novidade (segundo a FAO, insetos fazem parte do cardápio de cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo), começa a ganhar destaque principalmente por meio do uso no formato de farinha. A farinha à base de insetos é utilizada em vários produtos e pode ser encontrada em barras comestíveis (semelhantes às nossas já muito conhecidas barrinhas de cereais), utilizadas principalmente como fonte de proteínas.
Essas “barrinhas de proteína”, que focam principalmente no público que busca uma alimentação prática, saudável e fontes de energia para a prática esportiva, já está em comercialização. A projeção para este mercado também é de crescimento, e a previsão apresentada na feira é de que o comércio de proteínas alternativas à base de insetos atinja a marca de 1,2 bilhões de dólares até 2023.
Como resultado da valorização das proteínas de origem vegetal, estima-se que o mercado para legumes considerados ricos em proteína – como grão-de-bico, lentilha e feijão –, que movimentou US$ 44,9 bilhões em 2017, chegue à marca de US$ 75,8 bilhões até 2025.
A busca por alimentação saudável, descomplicada e conveniente também impulsiona a compra de alimentos e suplementos alimentares em outros formatos como pílulas, farinhas e shots (pequenas doses), que utilizam como principais ingredientes produtos como gengibre, açafrão e similares. Nesse mercado, também em crescimento, a estimativa é de movimentar aproximadamente US$ 8,5 bilhões até 2025.
Já no segmento de produtos à base de cannabis, os maiores destaques no “Taste Innovation Show” foram a hemponade (suco puro de cannabis prensada a frio com um toque de limão), o Cwiss (chá gelado com suco de limão, xarope e extrato de flores de cannabis suíça), os palitinhos veganos de cannabis (petisco feito com grão de bico, sementes de cannabis, ervilha, milho e cebola) e o queijo “haymilk” (queijo especial produzido com leite de vacas alimentadas a pasto, temperado com ervas como tomilho e semente de cannabis).
Vale lembrar que na Alemanha, bem como em toda a União Europeia e no Brasil, o uso da cannabis em alimentos e bebidas ainda não é permitido. As empresas aguardam a regulamentação deste insumo, que no Brasil está em análise pela Anvisa, para uso científico e medicinal. No entanto, alguns produtos já estão disponíveis no mercado europeu, principalmente os que utilizam o óleo de cannabis de qualidade farmacêutica (canabidol/CBD). E, apesar da crescente popularidade destes produtos, ainda existe uma lacuna no conhecimento científico sobre os reais benefícios e o impacto do CBD utilizado com outras substâncias.
Além das questões legais e regulamentares sobre o uso da cannabis, de insetos ou de qualquer outro insumo na produção de alimentos e bebidas, os empreendedores devem estar atentos principalmente ao comportamento do consumidor que pretende conquistar. No Brasil, o consumo de insetos ainda está distante dos hábitos alimentares, com algumas exceções como o caso de formigas (que já ganharam até um festival em Tianguá, no Ceará), que fazem parte das tradições indígenas da Amazônia. A utilização da cannabis ou do CBD para fins medicinais e científicos é uma discussão em estágio inicial e, para o mercado de alimentos e bebidas, ainda é um assunto praticamente desconhecido.
Apesar do crescimento dos mercados vegano e vegetariano e da busca pelas proteínas alternativas de origem vegetal, o consumo de carne bovina per capita pelos brasileiros segue crescendo. Segundo dados da ABIEC, o consumo per capita de carne, que era de 35,8 kg em 2016, pulou para 42,12 kg em 2018. Dessa forma, observar tendências e movimentos do mercado é importante, mas, para aproveitar as oportunidades, é fundamental compreender o momento certo para ajustar o modelo de negócios, fazer mudanças de cardápio, implementar novas linhas de produtos e criar negócios baseados em tendências mundiais.
Devemos complementar as informações de macrotendências com dados locais sobre os hábitos dos nossos consumidores. Com estas informações, ir para a ação no tempo certo em que o cliente compreenderá o posicionamento e a proposta da empresa é o ponto central para evitarmos riscos desnecessários, de estarmos atrasados, ou à frente do tempo.
Fontes: Anuga, FAO, AT Kearney, Mordor Inteligence, Markets Insiders, Meticulous Market, Hexa, Abiec e NRA.
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