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Fernando Ribeiro Piegas
Coordenador estadual de ILP do Sebrae RS
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O trabalho no campo não é nada fácil. Mesmo enfrentando obstáculos como logística, risco climático, variação cambial, custo dos insumos, risco de pragas e doenças, sazonalidade, falta de conectividade, etc., o agronegócio brasileiro responde por 22% do PIB do país (Cepea/CNA, 2017) e é referência na produção e exportação de diversos alimentos. Apesar dessa grande importância, continua-se a esperar cada vez mais do agronegócio brasileiro pelo seguinte motivo: é um dos únicos países em que ainda possui um amplo potencial de expansão da produção agrícola, 29 milhões de hectares, segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura).
Na agricultura, bem como em outros segmentos, há basicamente duas maneiras de aumentar a produção: expandindo a área utilizada para a produção (crescimento horizontal) ou produzindo mais na mesma área (crescimento vertical) – o que se caracteriza como aumento de produtividade.
Por meio de alguns exemplos vou explicar como produtores de leite conseguiram alavancar seus negócios, aumentando a produção de maneira vertical, por meio de um conjunto de ações que fazem parte dos projetos coletivos que o Sebrae RS desenvolve no Estado.
Meu objetivo aqui é contar um pouco de como os projetos são realizados e quais foram as principais mudanças realizadas nos produtores assistidos que consideramos serem as principais propulsoras do incremento de produtividade e melhoria do resultado econômico e financeiro dos participantes dos projetos.
No primeiro ano, trabalhos de conscientização dos produtores é fundamental. Mas, afinal, o que é isso? São consultorias gerencias e técnicas com o intuito claro e objetivo de provocar uma grande reflexão dos produtores sobre seus negócios:
Como estão produzindo atualmente? Quais os resultados produtivos? Qual o resultado financeiro? Como estão evoluindo?
Ao refletir sobre esses questionamentos, muitos produtores acabam ficando sem resposta alguma, por vezes estão na atividade simplesmente porque ali se criaram e desenvolvem os mesmos métodos e processos de seus antecessores.
Essa reflexão é muito importante, pois os instiga a pensarem que é possível mudar, que existem outras formas de produzir, que existem outras formas de quantificar seu negócio e que evoluindo aumentarão a probabilidade de perdurarem em suas atividades.
Um ponto importante nesse processo é identificar qual componente ou fator está limitando o resultado econômico dos produtores: alto custo de produção, baixa produtividade, ou ambos? No caso dos produtores de leite participantes do projeto PISA (Produção Integrada de Sistemas Agropecuários), o método de produção utilizado impactava diretamente nos dois componentes, situação que evidenciava a fragilidade do sistema, onde o declínio na atividade, para muitos produtores, era somente uma questão de tempo.
Devido à inexistência de planejamento forrageiro, os animais não tinham disponibilidade suficiente de pasto ao longo do ano, o que impactava o negócio de duas maneiras: forçava o produtor a adquirir ração para compensar o déficit forrageiro, que em muitos casos representava 30% dos custos de produção e; o método de pastejo utilizado era baseado em uma técnica de pastejo rotativo intensiva e com grande necessidade de mão de obra terceirizada.
Em consequência à intensidade do sistema, o pasto demorava cada vez mais para rebrotar, gerando estresse e limitando a capacidade produtiva dos animais. Nesse contexto, a capacidade de resiliência de qualquer empresa tende a ficar cada vez mais comprometida, e repensar o modelo de produção utilizado se torna uma necessidade.
Assim, as ações subsequentes foram de adoção de uma nova maneira de produzir, com foco no planejamento forrageiro adequado ao rebanho. Adotou-se o Pastoreio Rotatínuo, moderna técnica de pastejo que potencializa a produção forrageira dos campos através da redução do número de piquetes na rotação, aumento da forragem residual ao final do pastejo e a adubação adequada dos pastos, realizando o ajuste nutricional do rebanho em lactação para pastos de alta qualidade (redução de silagem e suplementação energética).
Ajustado este primeiro ponto, os resultados já começaram a aparecer. Animais passaram a ter acesso a maior oferta de forragem devido à quebra do paradigma do resíduo pós-pastejo. Ou seja, quando os animais saem de um potreiro e este fica com uma quantidade maior de forragem comparado ao sistema anterior. Este método aumenta a capacidade do campo de regenerar-se em menor espaço de tempo. Logo, quando os animais retornam encontram um piquete com muito mais pasto e passam a ter uma “capacidade de colheita” de forragem de maior rendimento, no mesmo espaço de tempo ingerem maior volume de forragem, resultando em um aumento direto na produção leiteira e consequente redução do uso de ração.
Um ponto a ser ressaltado é que para a construção de um sistema vertical, o valor economizado pela redução do valor despendido com ração precisa ser reinvestido no sistema em forma de adubação das pastagens, técnica que ao longo do tempo tende a diminuir a necessidade de inversão financeira devido ao processo de construção da fertilidade do solo juntamente com a ciclagem de nutrientes através do manejo de cobertura mínima vegetal nos campos.
Depois de entendido o manejo forrageiro, foi a vez de realizar os ajustes necessários em infraestrutura e organização do espaço físico de trabalho e qualidade do produto. Com base nos conceitos e técnicas abordadas através de consultorias, visitas a outras empresas e missões em eventos do setor, foram realizados ajustes nas salas de ordenha com o objetivo claro de otimizar o trabalho, reduzir riscos de acidentes, contaminações e, evitar prejuízos por questões sanitárias.
Ao “transformar” a leitaria antiga em uma sala de produção leiteira, o entusiasmo, o cuidado e o comprometimento com a atividade também são transformados, elevando o profissionalismo dos produtores e estabelecendo processos operacionais padronizados.
No âmbito sanitário, foram realizadas consultorias e capacitações que ao final do projetos reduziram os custos diretos e indiretos ocasionados por contaminações e/ou enfermidades. Esta última vem sendo um dos maiores obstáculos na pecuária leiteira do RS, principalmente quando se trata de mastite subclínica.
Segundo pesquisa realizada pela Universidade Nacional de Río Cuarto, Argentina, a mastite subclínica é o tipo da enfermidade que ocasiona as maiores perdas na produção leiteira, o que pode representar de 15% a 24% da renda bruta. O impacto do custo total ocasionado pela mastite em proporção à renda bruta é maior em rebanhos de baixa produção, perfil semelhante ao dos produtores de leite assistidos pelo Sebrae.
Este dado requer muita atenção, pois por desconhecimento de técnicas simples de profilaxias muitos produtores encontravam-se com índices de produtividade bem inferiores e sem perspectiva de melhora.
Por fim, o último fator crítico de sucesso que destaco está na parte gerencial. É fundamental ter a compreensão que a produção agrícola é um negócio que deve ser rentável, precisa ser controlado, medido e avaliado e, que seja ambientalmente sustentável.
Compreender que toda decisão a ser tomada, seja fundamentada em dados, com informações obtidas do dia a dia e que sejam confiáveis – reflitam verdadeiramente o negócio. Neste sentido, capacitações gerenciais foram realizadas para os produtores, que passaram a compreender distintas técnicas de controle, modelos de ferramentas utilizados, a importância da informação e quais dados e indicadores seriam imprescindíveis para seus respectivos negócios.
Por meio da adoção de ferramentas básicas de gestão, os produtores passaram a compreender de maneira mais clara a importância de cada sistema, quais são as principais rubricas que compõem o centro de custos da produção leiteira, quais têm maior representatividade, quais delas os produtores possuem maior e menor interferência, etc.
Ao dominar este conceito, passaram a desenvolver a autonomia, o senso crítico e a segurança, pois sabem que toda e qualquer tomada de decisão não será simplesmente em função de uma opinião ou convicção, mas sim em função de informação confiável, o que aumenta e muito a probabilidade de que as decisões tomadas tenham cada vez mais impacto positivo nos negócios. Isto permite que tenham visão sistêmica, entendendo que o planejamento e a gestão são fatores determinantes para o seu sucesso.
Por fim, a evolução desses produtores ao longo do período do projeto foi latente, passaram a controlar cada vez mais seus negócios, aumentando faturamento, reduzindo custos, produzindo mais e melhor. Mas a grande mudança a ser desatacada foi relativo à percepção de valor do projeto, não referente ao valor financeiro, mas o valor referente à qualidade que faz com que algo se torne importante para alguém. Ou seja, eles passaram a ter interesse pelo conhecimento, a questionar os métodos no intuito de querer compreender o todo e se tornaram os mais severos críticos dos seus próprios negócios.
O Sebrae RS está sempre presente no agronegócio. Além das consultorias individuais em diferentes áreas da gestão, a instituição, em parceria com Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS) e Federação da Agricultura do RS (Farsul), desenvolve o “Programa Juntos Para Competir”, ação integrada em agronegócios que visa potencializar os pequenos negócios agropecuários e desenvolver e estruturar diferentes cadeias produtivas do RS. Atualmente, este programa contempla 29 projetos, atendendo aproximadamente 2.800 produtores rurais nas áreas de: Pecuária de Corte e de Leite, Integração Lavoura-Pecuária, Vitivinicultura, Horticultura e Agroindústria.
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