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Debora Chagas
Coordenadora Estadual da Startups e Economia Digital do SEBRAE RS
Recentemente participei de um programa oficial do Governo Americano chamado IVLP (International Visitor Leadership Program) com foco em inovação em economia digital.
Fomos sete brasileiros selecionados para esta imersão incrível que passou por agendas em cinco Estados diferentes, nas cidades de Washington – DC, Columbus – Ohio, Dallas – Texas, São Francisco – Califórnia e Seattle – Washington.
Além de entender a dinâmica de tecnologia e inovação nos EUA, o programa também objetivava conhecermos e termos contatos com a cultura de cada região. Assim, participamos de algumas agendas culturais, incluindo um “home hospitality” na casa de uma família americana, entre outras atividades.
Por sua extensão territorial grande e seu sistema político federalista, cada Estado tem sua autonomia e suas particularidades sociais, culturais e econômicas. A Califórnia, por exemplo, se fosse um país seria a quinta economia do mundo. Hoje o Estado representa grande parte das principais patentes registradas nos EUA (54% delas no Vale do Silício e São Francisco) e tem a presença das principais empresas de tecnologia do mundo. Já o Texas, sempre muito dependente do petróleo, hoje busca na tecnologia novos modelos para seu desenvolvimento.
Quanto ao viés de tecnologia e inovação em economia digital, tivemos agendas com grandes empresas (Netflix, Amazon, Salesforce, Microsoft, AT&T, Philips), aceleradoras (Plug and Play, 1776, Capital Factory, Tech WildCatters), universidades (Johns Hopkins, Univ. Estadual de Ohio, Univ. Arlington, Univ. Washington), fundos de investimento (Silicon Valley Bank, Verge Ventures, Keiretsu) e governo, instituições e programas (Apex Brasil, Bay Brasil, BID, Departamento de Estado e Câmara de Comércio dos EUA, SBA, ICANN, Escritório de Patentes dos EUA, Jobs Ohio, Columbus Smart City, Dallas Innovation Alliance), o que possibilitou um olhar amplo sobre as tendências de tecnologia, os programas de governo, o funcionamento dos EUA nestas temáticas, como a inovação vem sendo trabalhada nas universidades, programas de STEAM (voltados para ciências, matemática e engenharias), mercado de investimentos e startups e como o Brasil pode ser visto como uma oportunidade de mercado.
Abaixo destaco alguns pontos que estão em nível muito aprofundado e crescente nos EUA e que pudemos observar nas agendas realizadas, com foco na inovação em economia digital:
É impressionante como estas tecnologias estão evoluídas, aplicadas e sendo discutidas nos EUA. Empresas e startups colocam no mercado novos modelos de negócios, universidades trabalham com pesquisas aplicadas em parceria com empresas.
Como já ouvimos falar aqui no Brasil, dados são o novo petróleo e estão no topo das grandes empresas, startups e governo nos EUA. O grande desafio – e que entendo que os EUA já está na frente – é na aplicação e utilização de dados gerando novos modelos de negócios.
A discussão sobre este tema está muito presente nos EUA. Grandes empresas, governos e as próprias pessoas têm uma grande preocupação com a segurança das informações e dos dados, o que no Brasil, apesar da nova Lei de Proteção de Dados, não se vê de forma tão ampliada, principalmente no que se refere à preocupação dos usuários.
As grandes empresas de tecnologia olham tanto para o seu mercado de atuação quanto para a tecnologia em si. Na Netflix, por exemplo, o conteúdo é tão importante quanto a tecnologia. Na Amazon, o varejo é tão importante quanto a tecnologia e, claro, o cliente/usuário é o centro das inovações.
Em Estados como Ohio e Texas, em especial nas cidades visitadas de Columbus e Dallas, estão em alta as iniciativas voltadas a smart cities e uso de dados para desenvolvimento das cidades e conexão com novos modelos de negócios, inclusive com testes de carros autônomos e testes de Hyperloop (transporte através de tubos com levitação magnética).
Nas quatro universidades que visitamos o que mais impressiona não são os laboratórios ou equipamentos (pois temos muitos similares no Brasil), mas sim o quanto as pesquisas se conectam com problemas reais do mercado, empresas e empreendedores e viram negócios de fato, como também registro de patentes.
Da mesma forma como no Brasil, as mulheres na área de tecnologia ainda são a minoria, mas o tema está bem forte nos EUA, com programas para incentivo da entrada de mulheres na área.
Novas soluções aplicadas que trazem uma experiência de compra diferenciada para o cliente, tanto no físico como no online. Aqui destaco a experiência incrível da Amazon Go, onde entramos com um QR Code gerado no app da loja e saímos sem check-out de uma forma simplificada, sem filas para pagamento.
Grandes empresas de tecnologia e startups estão de olho no mercado brasileiro, e os números já são muito atrativos. O Brasil é hoje o quinto mercado online do mundo, o quarto maior mercado de telefonia móvel do mundo, e os gastos com TI foram de US$ 47 bilhões em 2018 (ABES). O Brasil também é o segundo mercado do Facebook e Twitter, o terceiro mercado do LinkedIn, o WhatsApp já tem mais de 120 milhões de usuários ativos e o Uber tem como principais cidades no mundo São Paulo e Rio de Janeiro. Neste sentido, muitas empresas de tecnologia e startups já têm presença física no Brasil.
Acredito que o ecossistema brasileiro de inovação em economia digital e startups tem crescido muito e está em pleno desenvolvimento, com aporte de novos investimentos, laboratórios equipados para prototipagem de novos modelos de negócios, “open inovation” e conexão com startups em grandes empresas, novos programas em universidades e aceleradoras, os primeiros unicórnios e a transformação digital nas empresas e governos. Mas ainda estamos atrás quando se fala em tecnologia aplicada (universidades X empresas), patentes registradas, soluções aplicadas e disponíveis no mercado relacionadas a inteligência artificial, IOT e Big Data. E isso também se reflete no número de investimentos. Enquanto só no Vale do Silício o investimento em venture capital em 2017 foi de US$ 24,9 bilhões, na América Latina inteira foi de US$ 1,1 bilhão. Ainda temos um grande caminho pela frente, mas estamos no trilho e com certeza o empreendedorismo é a grande “chave” de desenvolvimento e da mudança do nosso país.
Participar deste programa foi uma experiência incrível, tanto pessoal como profissional, gerando muitas oportunidades de parcerias e conexões entre Brasil e EUA, como também entre nós, os sete brasileiros participantes.
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