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Marcelo Chiappetta
Produtor Rural e Eng. Agrônomo pela UFRGS
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Antes de pensarmos em qualquer tipo de evolução nos manejos agrícolas e em caminhos da agricultura moderna, devemos pensar primeiro na gestão: ter um controle acirrado dos custos de produção, custos de vida e percentual da rentabilidade final dos empreendimentos agrícolas. Mas antes de falarmos sobre agricultar, devemos pensar no que nos move. Primeiro na cultura, depois no agro.
Em cada um de nós existe algum tipo de inspiração que nos guia para superarmos desafios e sermos cada vez melhores, ainda que devamos sempre competir com nós mesmos e com os resultados gerados dentro da própria fazenda. Muitas vezes podemos nos inspirar assistindo a algum pesquisador revelar manejos de sucesso, assistindo a algum filme motivador, admirando pessoas próximas de nossa vivência ou ensinamentos das que já se foram, e também visitando e trocando experiências com outros produtores rurais sobre boas práticas, afinal, a troca de experiências, a vivência e a evolução são essenciais na superação de desafios.
Observando diferentes realidades, devemos nos influenciar positivamente para fazer o melhor para nós e para melhorar ainda mais a agricultura moderna brasileira. No entanto, ainda há uma falta de conscientização ou entendimento entre os agricultores a respeito da incorporação do uso de novas técnicas em suas operações e o desafio de não deixar o ego cair na cilada das competições comerciais de produtividade.
Muitas pragas, doenças e plantas daninhas já possuem alguma resistência ao controle feito com moléculas químicas. Estamos vendo megamultinacionais se fundindo com o intuito de monopolizar essas moléculas por mais tempo no mercado, e isso implica em recomendações técnicas para aumentar a dose das aplicações em alguns casos. Essas recomendações, muitas vezes, vêm dos próprios consultores técnicos das empresas químicas. E, no final, quem leva a culpa é o agricultor…
Precisamos, sim, de novas moléculas para garantir a segurança alimentar. Não podemos ser radicais quanto ao uso de moléculas químicas, entretanto, temos a oportunidade de encontrar outras opções relevantes, como, por exemplo, diversas plantas de coberturas, fertilizantes alternativos, manejo biológico tanto por macro quanto por micro-organismos, e, principalmente, aumentar a imunidade das plantas. Podem ser uma ótima ferramenta para aumentar a vida dessas moléculas químicas mais antigas que já estão batidas. O maior desafio, nesse caso, será integrar os manejos, já que muitos organismos vivos têm incompatibilidade com insumos químicos. E nunca podemos esquecer que a transição de um sistema para outro deve ser harmonioso e que cada um leva o seu tempo nessa mudança.
Na agricultura moderna, manejos biológicos são várias ferramentas com soluções naturais de proteção de plantas e de fitossanidade que podem ser utilizados sozinhos ou como parte de um programa que incorpora defensivos químicos e fertilizantes convencionais.
Dos diferentes conceitos de sustentabilidade, podemos dizer que um deles é utilizar a criatividade e a inteligência de resgatar a tradição agrícola com foco em altas produtividades para alimentar todos os seres do planeta. O reconhecimento dessa tradição serve como estímulo para renovação e inovação. Regenerar a tradição agrícola utilizando biotecnologias, internet das coisas e inteligência agronômica é o princípio de tudo.
A melhor forma de conhecer esses manejos que estão resgatando técnicas antigas integradas com tecnologias inovadoras de low tech com high tech é participando ativamente de dias de campo, fórum anual e encontros técnicos do GAS (Grupo de Agricultura Sustentável). Esse grupo teve início na cidade de Mineiros, Goiás, e já se espalha por todo o Brasil. Ele consiste, basicamente, de agricultores, consultores e indústrias que buscam novas alternativas para reduzir custos de produção, aumentar a rentabilidade e melhorar a qualidade do solo e das plantas em larga escala.
Uma das principais práticas pregadas é a multiplicação microbiológica onfarm, também chamada de agricultura fermentativa. Nesses encontros são discutidos, pelos próprios agricultores alicerçados na ciência, sobre as diversas ferramentas para aumentar a rentabilidade, diminuir a dependência de insumos químicos e melhorar a densidade nutricional das plantas e animais.
São técnicas baseadas em um manejo alicerçado no tripé “plantas de cobertura, saúde do solo e proteção de plantas utilizando microrganismos produzidos onfarm”. O objetivo final é ter plantas com maior imunidade, mais resistentes a pragas e doenças. Já tive a oportunidade de visitar algumas fazendas aqui no Brasil e em outros países que utilizam algumas técnicas e estão tendo resultados muito satisfatórios.
FOTOS 1 e 2: Mix de plantas de cobertura em fazenda de agricultura biológica, Bio Thorey, na região de Lantages, na França. O produtor trabalha com sementes salvas para criar memória genética nas sementes. Utiliza uma diversidade de plantas que possuem quase o mesmo ciclo para colher todas juntas em uma proporção nutritiva ideal para oferecer os grãos colhidos para seu semiconfinamento de animais. São 400 hectares de produção de grãos e pecuária. (Agradecimento a Jeferson de Souza que proporcionou a visita nesta fazenda).
FOTOS 3 e 4: Técnicas hi-tech e low-tech de avaliação da saúde do solo. À esquerda, um teste da massa microbiana do solo com equipamento microbiometer; à direita, cromatografia de Pfeiffer.
O que percebi, basicamente, é que mesmo em diferentes realidades existem pontos em comum: o esforço para superar desafios constantes, a paz de espírito e o resultado da satisfação em atingir objetivos é o que move e motiva todos nós para melhorar nossos manejos.
Essa é a agricultura moderna, saudável e, arrisco dizer, ideal, que integra conceitos e leva em consideração o ensinamento dos processos para serem executados pelos próprios agricultores. O custo é menor, mas o trabalho será maior. Sem ideologias e sem colocar manejos em pedestais. A chave é entender o sistema como um todo e pensar no solo como um confinamento de milhares de seres vivos que necessitam de alimentação constante. E, a partir do momento em que nutrimos esses seres, eles irão se alimentar e proteger nossas plantas. Mas antes a ciência deve ampliar os horizontes e nos guiar para entendermos melhor esse novo universo.
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