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Pedro Brites Pascotini
Coordenador Estadual de Olivicultura e Grãos e sistemas integrados do SEBRAE RS
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Já estamos cansados de ouvir em palestras técnicas e eventos comerciais sobre as prospecções do crescimento populacional e da demanda por alimentos para 2050, não é mesmo? Quando são levantados esses dados, o próximo passo sempre mostra o potencial de o Brasil ser o maior produtor de alimentos do mundo, mas, afinal, como o agronegócio brasileiro está se preparando para isso?
Pode-se dizer, sem dúvida nenhuma, que a tecnologia já é, e vai continuar sendo, a maior aliada para alcançarmos essa posição de destaque em nível mundial. Nas últimas décadas houve uma grande evolução no desenvolvimento tecnológico de máquinas, implementos, genética, produtos fitossanitários, tecnologia de aplicação e recentemente uma revolução com as startups do agronegócio. Mas não podemos esquecer que tecnologia não é somente meios e instrumentos, mas também envolve os processos, técnicas e métodos, e é sobre isso que vamos falar, especificamente do processo produtivo de integração lavoura-pecuária (ILP) ou Sistemas Integrados de Produção Agropecuária (Sipa).
Esses sistemas vêm ganhando força nos últimos anos. Um estudo recente, encomendado pela Rede de Fomento ILPF e realizado pelo Kleffman Group na safra 2015/2016, apontou um crescimento espantoso na área explorada com Sipa, com um aumento de 613% em dez anos, estimando que o Brasil soma atualmente 11.468.124 hectares explorados nesses sistemas. Os Estados com áreas mais expressivas são Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, cabendo ao RS o maior percentual de áreas agrícolas com integração lavoura-pecuária, 20%.
Mas quais são os benefícios dessa tecnologia? O maior deles é a sinergia entre a lavoura de grãos e a pecuária. Isso ocorre quando o resultado (seja ele econômico ou produtivo) do sistema integrado de lavoura-pecuária é maior que a soma dos resultados das duas atividades exploradas separadamente. Em resumo, como diz o Prof. Dr. Paulo Carvalho, um dos maiores pesquisadores do tema, ILP é “quando 1 + 1 = 3”. Dessa forma, a lavoura proporciona à pastagem a vantagem de um retorno econômico mais rápido, auxiliando a produção de forragens nas épocas mais críticas, fornecendo nutrientes e recuperando a produtividade. Já a pecuária sobre pastagens bem manejadas contribui para a agricultura de diversas formas.
A inserção do animal em pastagens bem adubadas, com manejo adequado de pastejo, uma lavoura em sucessão que utiliza bom manejo de solo e seguindo os preceitos do sistema de plantio direto resultam na ativação de um ciclo de reestruturação do solo em níveis químicos, físicos e biológicos. Essa reestruturação do solo gera ganhos produtivos, econômicos e também maior eficiência no uso de insumos. Além disso, também produz ganhos ambientais como a incorporação de carbono no solo, mitigação de gases de efeito estufa, redução de perda de solo e da lixiviação de nitritos e nitratos, entre outros.
Outra grande vantagem dos Sipa é a exploração econômica das áreas agrícolas durante os 12 meses do ano (intensificação). Ou seja, além de ser um mitigador de danos ambientais, produz todo o ano? A resposta é sim. Com rotação das culturas agrícolas e exploração animal, a área pode ser explorada durante todo o ano, gerando mais renda ao produtor, mas também produzindo mais na mesma área, já uma resposta do agronegócio do Brasil para a demanda futura de alimentos.
Podemos ver os avanços tecnológicos do agronegócio ainda com dados do estudo encomendado pela Rede de Fomento ILPF. Atualmente, a produção de grãos o Brasil ocupa cerca de 58 milhões de hectares. Se mantivesse as tecnologias disponíveis em 1960, teria de ocupar mais 209 milhões de hectares e chegaria assim a um total de 267 milhões de hectares para a agricultura. Já na pecuária, atualmente o Brasil ocupa 169 milhões de hectares, e se mantivesse a mesma tecnologia de 1960, teria que destinar mais 275,7 milhões de hectares de áreas para pastagem, ou seja, chegaria a 444,7 milhões de hectares ocupados. Por meio desses dados, podemos observar como a tecnologia é importante, pois somando as duas explorações chegaríamos a 725 milhões de hectares explorados, ou seja, valor nada sustentável, já que o Brasil tem uma área total de aproximadamente 851 milhões de hectares. Fica a pergunta: será que ainda teríamos a Amazônia? Isso mostra a importância da tecnologia para o agronegócio e para preservação ambiental.
Agora voltamos a falar dos Sipa, usamos mais uma vez os dados do estudo, se considerarmos a intensificação do uso do solo e a eficiência produtiva promovida por esses sistemas, a área necessária para produção pecuária seria de 28,35 milhões de hectares, e a de grãos, de apenas 9,45 milhões de hectares, o que totalizaria 37,8 milhões de hectares. Comparando com os 227 milhões de hectares explorados com pecuária e grãos de hoje, estaríamos utilizando uma área 83% menor, tamanha a eficiência e intensificação do sistema.
Tudo isso comprova que os Sipa, ou coloquialmente a ILP, são uma solução inteligente para produzir alimentos, pois agregam ganhos econômicos, produtivos, são comprovadamente mitigadores dos gases de efeito estufa e ainda fazem uso racional e sustentável das áreas utilizadas na agropecuária.
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