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Fabiano Cislaghi Dallacorte
Coordenador estadual do Metalmecânico e Energia do SEBRAE RS.
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Estamos passando por uma onda na transformação da indústria, isso é um fato. Ouvimos e vemos uma série de notícias relacionadas às fábricas do futuro, à autogestão de sistemas produtivos e à tecnologia embarcada na manufatura. Participamos de eventos e fóruns de discussão onde o assunto principal é a Indústria 4.0. Grandes empresas fabricantes de máquinas e equipamentos adequaram seus produtos para se encaixarem nos novos conceitos de manufatura avançada. Eu sei que você acha que esse é o futuro. E é! Mas antes disso, existem passos importantes a serem seguidos, caso você cobice a máxima produtividade na sua indústria.
A chamada “Indústria 4.0” compõe um conceito magistralmente criado pelo governo alemão com o propósito de manter a indústria alemã na vanguarda da produtividade e na competitividade mundial. Esse conceito é baseado na tecnologia aplicada à manufatura, desde a geração de energia e sua gestão eficiente, passando por meios de prototipagem rápida, máquinas que se comunicam com máquinas e adequam o processo ao produto e à demanda, robôs que interagem com as pessoas, redes inteligentes de comunicação, até o sistema logístico inteligente, transpassado pelo relacionamento com o cliente do pedido até a entrega do produto. O conceito, é claro, faz parte de uma tendência industrial e, como toda tendência, não é implementada de uma única vez.
Nas conversas sobre negócios e produtividade industrial, comumente ouço pessoas ligadas à indústria, empresários ou representantes dos setores, afirmando que a Indústria 4.0 está longe das grandes indústrias brasileiras e, ainda mais, das pequenas. Obviamente, isso é um fato observável em qualquer ambiente industrial do país, com raríssimas exceções. Mas o que podemos fazer se estamos tão longe da Indústria 4.0?
Primeiro é necessário entender a evolução dos processos industriais. A quarta revolução industrial não brotou do nada. Ela tem uma base extremamente sólida, que é o primeiro marco da busca pela produtividade (e pela agregação de valor, e pelo mínimo desperdício, e pelos maiores ganhos…). Essa base é o Lean Manufacturing, ou Produção Enxuta, ou então Sistema Toyota de Produção. A filosofia da redução de desperdício teve suas raízes nas atividades de Taiichi Ohno na Ford Motor Company, durante o período da 2ª Guerra Mundial, e se solidificou com o seu trabalho na Toyota, no pós-guerra.
O conceito é reduzir ao máximo os desperdícios nas sete perdas possíveis no ambiente de produção, que são as perdas por superprodução, de forma desbalanceada com o mercado; perdas por espera, com produtos esperando pela próxima etapa do processo; perdas de inventário, de produtos e materiais armazenados em excesso; perdas por movimentação, por movimentos em excesso do trabalhador; perdas por transporte, por movimentos em excesso do produto; perdas no processamento, realizando atividades que não agregam valor ao produto; e perdas por defeito, onde um produto manufaturado não pode ser vendido.
Os ensinamentos que o Lean Manufacturing nos trouxe são a base para a melhoria de qualquer sistema produtivo. Quando o objetivo é melhorar um processo em uma empresa que não é produtiva o suficiente, você investe em um robô que custa dezenas de milhares de dólares ou adequa o fluxo de produção através do layout e do estudo das movimentações, por exemplo? Adicionar uma máscara de tecnologia em um processo ineficiente não vai torná-lo produtivo. É óbvio que existem exceções, mas na grande maioria das pequenas indústrias do setor metalmecânico, um trabalho de balanceamento da produção e de redução dos desperdícios é o primeiro, mais barato e mais efetivo passo para o aumento dos ganhos. Antes mesmo de se pensar na automação.
Os conceitos por trás da Indústria 4.0 estão totalmente amparados por métodos de produção enxuta e, sem eles, uma indústria não pode ser “4.0”. Por isso, o Lean Manufacturing não perde importância frente à concepção da manufatura avançada, muito antes pelo contrário. A Indústria 4.0 fortalece ainda mais o Lean e é por isso que continuaremos a aplicá-lo em sistemas produtivos.
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