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Fabiano Bassani Zortéa
Coordenador estadual da Moda do SEBRAE RS.
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Ambiguidade. Em uma palavra podemos resumir as formas de pensar e agir do consumidor de moda atualmente. Para entender basta observar dois movimentos de comportamento.
Um tipo de comportamento está direcionado ao acesso facilitado, ao fast fashion, a satisfazer desejos, compensar faltas, se sentir melhor, mais bonito. Comprar muito o que não se precisa, mas se deseja. Vender roupa para quem não precisa, mas quer e pode pagar por isso. É o grande movimento desta cadeia produtiva nas últimas décadas.
O outro tipo de comportamento pressupõe que na cadeia produtiva da moda estamos vivendo um momento de fim, de final de ciclo. A forma como a gente se comunica, estuda, se relaciona, trabalha, enfim, vive, vem se transformando drasticamente após a chegada da internet. O dinheiro não tem mais tão a ver com o sucesso. O sucesso de uma empresa não está mais atrelado apenas ao faturamento. Nossa dependência dos recursos naturais e o quanto estamos devastando o planeta se tornaram preocupações mundiais. Moda é o segundo setor que mais polui o mundo, só perde para o petróleo. Somente no Bom Retiro, na cidade de São Paulo, são descartadas, por dia, 12 toneladas de roupas, de forma inapropriada, queimadas ou jogadas em aterros sanitários, atitudes sobre as quais não temos a menor noção do impacto. Na índia, 100 mil toneladas de peças são despejadas por ano. Em Bangladesh, 200 mil pessoas morreram nos últimos 30 anos por trabalhar em condições inadequadas. Nesse contexto, a moda vem perdendo o sentido.
Assim fica mais fácil compreender a ambiguidade, porque os dois tipos de comportamento contextualizados acima acontecem todos os dias, muitas vezes praticados pela mesma pessoa, que ora age a partir do impulso de consumo, ora a partir da consciência da real necessidade e do impacto no planeta. Não falamos aqui de certo ou errado. Entender é fácil. O complexo é atuar em um mercado no qual o consumidor possui ambiguidade de comportamento. Uma saída, especialmente para os pequenos negócios, é pensar em nichos de necessidades e comportamentos, fica menos complexo do que quando se pensa em posicionar marcas de grandes escalas de produção.
As oportunidades estão nos novos modelos de negócios que surgem. Hoje comprar roupa não é mais a única alternativa, as pessoas podem trocar e pegar emprestado. Os consumidores demonstram desejo por acesso a um armário versátil, sem precisar investir tanto dinheiro.
A moda sempre existiu por um propósito, mas parece que as coisas se perderam ao longo do tempo. Hoje muitas pessoas querem mudar o mundo através da moda, mas, do ponto de vista de consumo, a decisão de compra ainda considera, em uma proporção semelhante, tanto o impulso do momento, de satisfação do desejo pessoal, quanto a análise sobre a necessidade e o impacto da produção daquela peça no planeta.
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