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Priscila Trindade Sant'Anna
Gestora de Políticas Públicas Sebrae RS
Fala-se muito em comportamento empreendedor. Mas ele é nato? É possível adquirir com o tempo? Se sim, como e quando ensinar a ter as habilidades necessárias para ser um empreendedor? São muitas perguntas, mas todas as teorias convergem para uma resposta: sim, é possível desenvolver competências ao longo da vida. E agora outro ponto que já sabemos: quanto mais cedo, melhor.
Primeiro, vamos trazer luz ao conceito de comportamento empreendedor. Temos abordagens diferentes, que vão desde as teorias clássicas a partir das “10 Características Comportamentais do Empreendedor”, do psicólogo americano David McClelland – na quais é baseado o seminário vivencial Empretec, chancelado pela ONU (Nações Unidas) – até as abordagens mais modernas, como o Quadro de Competências Empresariais, da EntreComp, realizado pela Comissão Europeia, que propõe uma definição comum de empreendedorismo enquanto competência com o objetivo de criar consenso entre todas as partes interessadas e estabelecer uma ponte entre os mundos da educação e do trabalho.
E qual o ponto em comum dessas abordagens? O comportamento empreendedor é um conjunto de capacidades necessárias para transformar ideias e oportunidades em ação. Parece simples, mas não é. É como se fosse um jogo para acumular saberes e experiências. Em cada fase, é necessário desenvolver diferentes aptidões, e a soma delas nos torna capazes de gerar valor, resolver problemas e superar desafios até passar ao próximo nível.
Mas até agora ninguém falou em abrir empresa! Empreender pode ser criar um negócio, organizar uma ação que resolva um problema da comunidade ou um projeto de inovação dentro de uma empresa. São características como liderança, iniciativa, boa comunicação, planejamento, trabalho em equipe, criatividade, resiliência, persistência, comprometimento e autoconfiança, entre muitas outras. E podemos encontrar esses perfis em empresários, em políticos, em colaboradores de uma empresa ou em um líder comunitário.
Na educação, o comportamento empreendedor conversa com as competências para o século 21, que fornecem insumos de como o profissional do futuro tem que ser e que habilidades tem que ter para prosperar quando adulto. Há muito em comum nas duas listas. O que será necessário desenvolver nas crianças de hoje para que tenham empregabilidade amanhã? Um estudo americano que traduziu essa lista para auxiliar os governos a desenhar políticas públicas com a finalidade de desenvolver seus cidadãos divulgou uma pesquisa sobre o que se espera que os estudantes alcancem nos seus ciclos escolares, nos seus futuros trabalhos e na vida. A partir de então, o Ministério da Educação (MEC) do Brasil apresentou a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que visa a assegurar a formação comum que todos os estudantes devem desenvolver na educação básica, além de estabelecer as competências e habilidades que orientarão os currículos das escolas, adaptando-as de acordo com suas singularidades.
Ou seja, nas escolas e na vida o foco não está mais em formar um jovem tecnicamente, e sim sob um viés de comportamento. E para isso não basta mudar o conteúdo, tem que mudar a forma de ensinar e deixar o aluno ser protagonista do seu processo de aprendizagem. Competências, habilidades e atitudes não se ensinam a partir de livros: é um aprendizado de cunho vivencial, é errar para aprender, é uma jornada individual de cada um. E aí está o grande desafio para desenvolver indivíduos mais empreendedores durante seu período escolar.
No futuro, as profissões serão muito diferentes das que temos agora. O profissional mais valorizado será aquele que tiver o maior número de competências empreendedoras, que seja criativo para ter ideias, e resolutivo para colocá-las em ação. E para finalizar, vale enfatizar: tudo que se aprende no início da vida é mais fácil de assimilar, mas nunca é tarde para desenvolver, aprimorar e adquirir novas habilidades.
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