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SEBRAE RS
Redação
Texto: Leo Sewald
Você já deve ter ouvido falar em cervejas especiais, cervejas gourmet, ou ainda bebidas super premium… o mercado de cervejas de alto valor agregado, as chamadas cervejas artesanais, está de vento em popa.
Por aqui, o mercado ainda corresponde a menos de 1% da fatia de volume consumido em cerveja. Porém, o Brasil cresce em ritmo acelerado: a pouco mais de 5 anos atrás, tínhamos menos de 50 cervejarias em atividade no país; hoje, são mais de 500 (fonte: ABRACERVA). A título de exemplo, nos Estados Unidos, atual meca das craft beers que conta com mais de 4000 cervejarias, a fatia de volume consumido já ultrapassou os 15% do volume total de cerveja consumida no país (fonte: Brewers Association).
Mas o que é cerveja artesanal? Gosto de dizer que cerveja artesanal é a cerveja de verdade, uma cura para a miopia histórica que vivemos durante décadas consumindo as chamadas cervejas de massa, produtos produzidos pelos grandes conglomerados cervejeiros internacionais onde o objetivo não é o de entregar experiências sensoriais de alto valor agregado, mas o sim o de trabalhar com baixas margens de rejeição. Nesse sentido, a melhor forma se produzir um produto que tenha baixos índices de rejeição é fazê-lo com o mínimo de sabor possível. É por isso que se diz que cerveja precisa ser consumida “estupidamente gelada”, pois dessa forma nossas papilas gustativas, com o choque térmico, não nos deixam perceber o (pouco) sabor por trás de tais produtos.
Com cerca de 10 mil anos de história, a cerveja artesanal propicia um resgate histórico. São cervejas frutadas, condimentadas, escuras, avermelhadas, com sabores marcantes que podem remeter a ervas, temperos, especiarias, madeira, frutas, com traços por vezes delicados e elegantes e, em outros produtos, marcantes e intensos. Tudo vai depender do processo e do estilo de cerveja sendo produzido. Sim, cerveja tem estilo também, o mundo da cerveja não é só o da Pilsen!
Além disso, a cerveja artesanal mostra versatilidade à mesa em harmonizações gastronômicas, mesmo quando comparada a um bom vinho. Por ter uma dimensão de sabor a mais (a do lúpulo), as combinações sensoriais aumentam exponencialmente. A carbonatação da cerveja também limpa o paladar, dando espaço para novas harmonizações.
Algumas cervejarias artesanais seguem preceitos de escolas clássicas cervejeiras, como a escola alemã, que adota na Reinheitsgebot, a Lei de Pureza de 1516, um princípio de controle de produção que permite que só se use na cerveja 4 ingredientes básicos: água, malte, lúpulo e fermento. Já outras escolas não fazem uso de tais dogmas cervejeiros sob a premissa que isso é um limitador criativo, e abrem o leque de insumos através do uso de temperos, condimentos e especiarias, como os Belgas e suas witbiers carregadas de sementes de coentro e cascas de laranja.
Nações modernas como os Estados Unidos despontaram recentemente para o mundo das cervejas como expoentes da expressão criativa no processo fabril, fazendo uso de processos e ingredientes típicos de outras bebidas, tais como a maturação de certos estilos de cerveja em barris de madeira previamente usados para produção de destilados, por exemplo.
Em resumo, as cervejas artesanais são experiências sensoriais multifacetadas. Nesse sentido, o Brasil está com um prato cheio pela frente, pois na condição de nação jovem, temos a possibilidade de unir um misto de ciência e tecnologia aliadas à tradição e cultura em estado líquido, fazendo uso da vasta carta de ingredientes tipicamente brasileiros para criar uma assinatura única nas cervejas produzidas por aqui, dando uma nova cara para aquela bebida que é tida como o lubrificante social mais importante do mundo. Assim fica fácil de ver que a revolução do consumo de bebidas de alto valor agregado veio, com certeza, para ficar.
Texto de Leo Sewald – cervejeiro e sócio-fundador da Cervejaria Seasons
Renomada cervejaria de Porto Alegre/RS. Cervejeiro formado pelo Siebel Institute of Technology de Chicago/EUA, Leo também é consultor de mercado para novos negócios, membro da Brewers Association, ASBC – American Society of Brewing Chemists e MBAA – Master Brewers Association of Americas. Professor da Escola Superior de Cerveja e Malte, Science of Beer e jurado de competições nacionais e internacionais de cerveja, também atuou como membro da diretoria das associações brasileiras que trabalham em prol da comunidade cervejeira nacional e estadual, respectivamente, a ABRACERVA e AGM. Sócio-fundador da Acerva Gaúcha e homebrewer desde 2005, Leo é um ativista do setor, ministrando palestras, cursos e workshops com o intuito de disseminar a cultura das boas cervejas.
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