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Fabiano Cislaghi Dallacorte
Coordenador estadual do Metalmecânico e Energia do SEBRAE RS.
A Indústria 4.0 é o próximo estágio a ser atingido em termos de produtividade máxima. Agregação de tecnologia para tornar os processos ágeis a ponto de reduzir o custo ao máximo e, ao mesmo tempo, conseguir flexibilizar a produção de forma a entregar lotes de um produto é a bandeira suprema desse conceito. Poucas empresas no mundo todo estão prontas para atuar com essa filosofia. Por outro lado, empresas de diversos tamanhos e segmentos estão em preparação para atingir o estágio de indústria do futuro. Grandes catalisadores do assunto, como a Feira Industrial de Hannover, apresentam tendências e tecnologias que alavancarão as indústrias para o próximo patamar e fazem a conexão entre o presente e o futuro.
Quando exercitamos a visualização desse cenário na indústria brasileira, identificamos que a distância da tecnologia embarcada da nossa indústria em relação a Europa, EUA e países da Ásia aumenta. Diversos fatores influenciam essa distância. O fato é que a indústria representa participação de menos de 10% do PIB brasileiro, que já foi de 21,6% em 1985, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo um estudo da Universidade Cornell, o Brasil ocupa o 69º lugar no índice global de inovação, que avalia quesitos como crescimento da produtividade, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, educação e exportação de produtos de alta tecnologia, entre outros.
O Brasil tem caído nesse ranking de eficiência de inovação. Da mesma forma, entre 2006 e 2016 a produtividade da indústria brasileira caiu mais de sete pontos. Por outro lado, no relatório “Readiness for the Future of Production Report 2018” (WEF), apesar de o Brasil ocupar a 41ª posição em estrutura de produção, o país é visto como um potencial vetor de produção e de aumento de complexidade de produção.
Agenda da Indústria 4.0
Dentro desse cenário, entidades brasileiras que discutem a indústria identificaram que é preciso articular ações em conjunto em uma estratégia dual de “transformar a indústria hoje e criar a indústria do futuro”. Para alavancar essas iniciativas, surgiu a Agenda Brasileira da Indústria 4.0, coordenada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e composta por 53 entidades.
Conforme a ABDI, a estratégia é “transformar a indústria hoje significa que a despeito dos desafios trazidos pela 4ª revolução industrial, as empresas têm espaço para fazer um uso mais eficiente dos seus recursos (físicos, financeiros e informacionais) para que seus produtos e serviços sejam mais competitivos no país e no mundo”. Isso se traduz em implementar formas mais eficientes de gestão, como o lean manufacturing, além de orientar processos e decisões a partir da análise em tempo real dos dados de produção”.
O que isso pode representar para as indústrias brasileiras, inclusive as pequenas? Segundo o grupo de trabalho da Agenda Brasileira para a Indústria 4.0, a estimativa anual de redução dos custos industriais no Brasil a partir da migração para o conceito da Indústria 4.0 será de R$ 73 bilhões por ano. Esse dado quantifica o quanto o país pode aumentar a sua competitividade interna e, principalmente, externa. Em eficiência o ganho seria de R$ 34 bilhões por ano; em manutenção, a redução seria de R$ 31 bilhões por ano; e em energia se economizariam R$ 7 bilhões por ano.
A movimentação sugerida pela ação da Agenda Brasileira para a Indústria 4.0 trabalha com quatro premissas:
1) Fomentar iniciativas que facilitem e habilitem o investimento privado, haja vista a nova realidade fiscal do país;
2) Propor agenda centrada no industrial/empresário, conectando instrumentos de apoio existentes, permitindo uma maior racionalização e uso efetivo, facilitando o acesso dos demandantes, levando o maior volume possível de recursos para a “ponta”;
3) Testar, avaliar, debater e construir consensos por meio da validação de projetos-piloto, medidas experimentais, operando com neutralidade tecnológica;
4) Equilibrar medidas de apoio para pequenas e médias empresas com grandes companhias.
Jornada da Indústria 4.0
Uma jornada foi proposta para alavancar essas premissas. O primeiro ponto é tornar os conceitos da Indústria 4.0 difundidos e conhecidos por todos que trabalham no setor. O segundo é diagnosticar o estágio das indústrias e oferecer um hub de conhecimento para implementar melhorias com instituições que dominam a técnica. Incentivar a manufatura enxuta como a base para o aumento de produtividade é o próximo ponto. O quarto marco da jornada é criar test beds, ou fábricas do futuro, responsáveis por receber protótipos de tecnologia para aprimorá-los, identificar viabilidade e, posteriormente, oferece-los ao mercado. Fechando a etapa de implementação e prototipação, a conexão das indústrias com startups é um marco importante. As startups têm o potencial de alavancar a implementação de tecnologia por meio de soluções disruptivas e inovadoras de forma rápida, e a conexão com a indústria é imprescindível para que se validem as soluções a serem desenvolvidas.
O segundo estágio da jornada é o de identificar e organizar requisitos para que a indústria seja alavancada. Pessoas precisarão estar aptas a trabalhar em ambientes inovadores de produção, então precisam ser preparadas para atuar nesse novo conceito. Da mesma forma, normativas que travam o aumento da produtividade precisam ser revistas a fim de possibilitar, por exemplo, a implementação de robôs colaborativos e para trazer privacidade para os dados de produção com a internet industrial.
Sabemos que os países que lideram o ranking de inovação na indústria têm um importante estímulo: dinheiro para fazer a tecnologia descer para o chão de fábrica. No Brasil, tornar a indústria 4.0 financiável é um ponto importante e está estabelecido na jornada da Agenda. Sem recursos financeiros e alavancagem consciente, dificilmente alcançaremos um patamar avançado de produção.
Por fim, a jornada da Agenda finaliza com o Comércio Internacional 4.0, que estimula a zeragem de alíquotas de impostos de importação de insumos estratégicos para a indústria do futuro, assim como permitir a cooperação de projetos bilaterais relacionados à Indústria 4.0 com outros países.
A viabilidade de se atingir uma “Indústria Brasileira 4.0” começa a ser desmistificada. No momento em que entidades e empresas iniciam a implementação, catalisam oportunidades para as pequenas indústrias empreenderem nessa trajetória. Por isso, fique atento sobre o assunto e participe dessa jornada.
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