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Lidiane de Lima Soldatti Schneider
Gestora de Projetos de Agronegócio | Sebrae RS Santa Maria
Em 1920, quando Porto Alegre iniciou a retomada de sua hegemonia econômica que havia perdido para Pelotas, na região Sul do Rio Grande do Sul, o Estado vivenciou o ápice da ovinocultura, muito mais vinculada, à época, à produção de lã. A partir de 1940, o mercado do segmento entrou em forte declínio. De lá para cá, a ovinocultura passou a ser muito mais valorizada. Rentável, saborosa e saudável, a carne ovina tem mercado para crescer. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil possui mais de 18 milhões de ovinos, e o número vem crescendo diante da procura pela carne.
Historicamente, a carne ovina era um subproduto que era servido para os peões das antigas estâncias (fazendas). Passados os anos, quando foi para o mercado, já chegou “gourmetizada”, ou seja, ligado à alta gastronomia. Todavia, seu sabor, maciez e valor nutricional poderiam estar mais presentes no dia a dia do brasileiro.
Ocorre que boa parcela daqueles que já provaram a carne ovina não fizeram disso um hábito. A revelação é de uma pesquisa recente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). De acordo com o estudo, 12% nunca comeram carne ovina, cerca de 25 milhões de brasileiros, o que evidencia um potencial promissor, mas também barreiras mercadológicas, principalmente ligadas à produção e ao corte.
Ao mesmo tempo em que as carnes bovina, suína e de frango estão presentes cotidianamente no prato das famílias no Brasil, a ovina ainda luta por seu espaço. Conforme a pesquisa da Embrapa, 27% revelaram comer algumas vezes por ano e 35% alguma vez na vida.
Chama atenção que o consumo de carne ovina é frequente apenas para 25% da população nacional, cerca de 52 milhões de pessoas, sendo que 17% dos pesquisados admitem saborear a carne ovina pelo menos uma vez por mês, 7% uma vez por semana e apenas 1% afirmaram comer carne ovina diariamente.
A Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco) calcula um consumo de 400 gramas anuais de carne ovina per capita, enquanto que o brasileiro come em média cerca de 44 kg de carne de frango, 35 kg de carne bovina e 15 kg de suínos anualmente.
No âmbito estadual, pesquisa feita com 600 pessoas em Porto Alegre, Santa Maria e Caxias do Sul pelo Centro de Estudos e Pesquisa em Administração da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) mostrou que 84% dos entrevistados consomem carne ovina apenas uma vez por mês ou até menos que isso. A maioria dos entrevistados indicou que consome em casa (66%) ou na casa de amigos (23%), e apenas 6% em churrascarias e 5% em restaurantes. 91% dos pesquisados indicaram que o consumo dessa carne está relacionado a finais de semana, feriados e ocasiões especiais.
Quanto à origem da carne, 36% compram em açougues, 31% em supermercados e 16% diretamente de produtores, sendo que 38% compram entre 1 kg e 2 kg e 37% mais de 2 kg, enquanto somente 5% adquirem a carcaça inteira. E ainda há um caminho longo a ser percorrido para mudar a preferência das pessoas: apenas 9% dos entrevistados consideram a carne ovina mais saborosa, e 21% a colocam em último lugar em sua preferência.
A falta de preferência por esse tipo de carne pode ser explicada pela pouca disponibilidade no mercado, se comparada a outras como de boi, frango e suína. Isso também acarreta pouca disponibilidade de cortes mais variados, que facilitem o uso da carne no dia a dia, outro fator que dificulta sua popularização massiva.
Além do Rio Grande do Sul, tradicional criador de ovinos e que tem vivenciado a retomada da produção, passando a focar mais na carne, além da lã, o Nordeste é outra região que tem se destacado. Além desses, o Centro-Oeste se destaca pelo potencial de área para produção extensiva, e o Sudeste ganha campo pela qualidade.
Diante desse cenário, em âmbito mundial, conforme a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), o rebanho mundial de ovinos diminuiu cerca de 8% nos últimos anos. Assim, o mercado internacional passou a abrir espaço para outras nações produtoras, a exemplo do Brasil. Apesar disso, a ovinocultura nacional ainda não deslanchou para poder abocanhar essa demanda, considerando que importa mais do que exporta.
Exemplo disso é o RS. Dados da Secretaria Estadual da Agricultura dão conta de um rebanho atual da ordem de 3,137 milhões de ovinos. Mas, detalhe, a taxa de assinalação (cordeiros que sobrevivem até serem desmamados) é inferior a 60%. Em países de referência, como a Nova Zelândia, o índice supera os 120%, em razão da possibilidade de geminação em ovelhas.
A carne ovina tem seus diferenciais: tem alto valor de mercado quando comparada às demais, o que inclui a bovina, tornando as negociações deste setor mais lucrativas.
Renomados conhecedores do segmento destacam que o custo de manutenção de dez ovelhas, em um mesmo espaço onde é criada uma vaca, é bem menor. Além disso, estudos mostram que um boi precisa de um hectare de capim para se alimentar durante um ano e atingir entre 200 e 250 kg. Nesse mesmo espaço, 60 ovinos podem pastar e produzir até 900 kg de carne.
Além de rentável, a carne ovina também é saborosa, macia e suculenta e se destaca por seu valor nutricional, uma vez que contém aproximadamente 9,5% de lipídios. Essa carne é excelente fonte de proteína de elevado valor biológico pela disponibilidade e digestibilidade de aminoácidos essenciais.
Somado a isso, apresenta todas as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), as hidrossolúveis do complexo B (tiamina, riboflavina, nicotinamida, piridoxina, ácido pantotênico, ácido fólico, niacina, cobalamina e biotina) e um pouco de vitamina C. Também tem papel importante na nutrição como fonte de minerais e uma grande contribuição na absorção de selênio.
Muito tradicional na culinária do Oriente Médio e do Mediterrâneo, região famosa por uma dieta rica e balanceada, a carne ovina certamente pode ter maior participação na mesa de famílias brasileiras. Ganha a saúde. Ganha o paladar.
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