Benchmarking: a ferramenta que veio da indústria para auxiliar o campo

Thaís Lopes Gonçalves

Médica Veterinária, Mestranda em Ciência Animal na Unipampa / CTPEC

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A pecuária de corte possui destacada importância na economia nacional. O País detém o maior rebanho comercial do mundo, sendo também o maior exportador de carne, corroborando para o superávit da balança comercial brasileira do agronegócio em 2018. Nos últimos anos, o setor vem apresentando notáveis avanços em termos produtivos. Diversos estudos apontam a diminuição na idade de abate, melhorias na qualidade das carcaças, aumento da taxa de lotação das pastagens, dentre outros fatores, como evidências desse crescimento.

Apesar disso, a heterogeneidade permanece como uma das principais características dos sistemas de produção de bovinos de corte. Um estudo realizado na Fronteira Oeste do RS, no ano de 2017, confirmou essa característica. Foi analisado o resultado da produção pecuária (margem bruta/ha) de propriedades rurais, semelhantes quanto à disponibilidade dos fatores de produção (terra, capital e trabalho) e localização geográfica. Apesar da homogeneidade entre as propriedades, o terço superior apresentou uma margem bruta de R$ 288,32/ha enquanto o terço inferior operou em prejuízo, com R$ 186,94/ha negativos.

Pesquisas têm sugerido que aspectos relacionados à gestão constituem a principal limitação para assegurar a viabilidade econômica da atividade, sendo, portanto, fator de diferenciação entre os empreendimentos de sucesso e aqueles malsucedidos. Considerando que as habilidades gerenciais dos produtores os levam a uma melhor alocação dos recursos disponíveis, assegurando-lhes maiores índices de rentabilidade do negócio, torna-se essencial favorecer o desenvolvimento de tais habilidades e fornecer as ferramentas que os auxiliem no processo de tomada de decisão.

Já difundido no meio empresarial e na indústria, o benchmarking é uma das ferramentas disponíveis para suporte à tomada de decisão, em níveis estratégico e operacional. O método é baseado na mensuração do desempenho de empresas e sua comparação com os concorrentes. Quando aplicado a propriedades rurais, é possível apontar déficits nos sistemas de produção e identificar os processos que tornam determinado produtor mais eficiente dentro de um grupo homogêneo (propriedades sob condições semelhantes de solo, clima, sistema produtivo e recursos, por exemplo). Dessa forma, é um grande aliado da melhoria contínua, ao permitir a comparação frente aos melhores.

Apesar das variações existentes, o benchmarking, quando aplicado à pecuária de corte, segue as seguintes etapas:

1. Delimitação de um grupo de propriedades rurais homogêneas;
2. Definição do objetivo central da análise de benchmarking;
3. Com base no objetivo definido, seleção dos indicadores zootécnicos e econômicos a serem utilizados para mensuração do desempenho;
4. Padronização da metodologia de cálculo dos indicadores selecionados;
5. Coleta de dados nas propriedades;
6. Análise dos dados;
7. Identificação da propriedade mais eficiente e levantamento das práticas e processos por ela adotados;
8. Comunicação dos resultados ao grupo, incluindo a posição de cada propriedade no ranking da eficiência e as ineficiências encontradas.

Dentre os entraves para a disseminação do método entre empresas rurais, três merecem destaque:

• Baixa disponibilidade de dados: grande parte dos produtores rurais não adota nenhum sistema de controle gerencial, inviabilizando o cálculo de indicadores.
• Ausência de padronização no cálculo de indicadores: se por um lado os indicadores técnicos encontram-se relativamente padronizados na literatura, por outro os indicadores econômicos possuem natureza e interpretações diversas, em virtude de sua ampla aplicabilidade nas áreas de contabilidade, economia e administração.
• Dificuldade em compartilhar: o benchmarking só cumpre seu propósito quando os produtores rurais estão dispostos a trocar informações a respeito de seus resultados, sejam eles bons ou ruins. Além disso, os menos eficientes serão beneficiados apenas se os detentores das melhores práticas compartilharem seus processos.

Além dos benefícios já citados, o benchmarking incentiva a adoção de práticas gerenciais (coleta de dados, análise de resultados e planejamento estratégico) que permitirão ao produtor conhecer e monitorar seus melhores indicadores e identificar aqueles de maior impacto sobre os seus resultados.

Um número cada vez maior de empresas de consultoria em pecuária de corte está adotando o método e o oferecendo como um serviço aos clientes, que recebem relatórios com seus resultados frente aos demais participantes. Apesar das diferentes metodologias aplicadas pelas diversas empresas, o objetivo é comum a todas: adoção das melhores práticas e busca pela melhoria contínua, conceitos da indústria que chegaram (para ficar) no campo.

Artigo feito em colaboração com:

Prof. Ricardo Pedroso Oaigen, Curso de Medicina Veterinária, Unipampa/Campus Uruguaiana, Setor de Gestão Pecuária/Centro de Tecnologia em Pecuária (CTPEC)

Dra. Mariana de Aragão Pereira, Pesquisadora, Embrapa Gado de Corte, Campo Grande-MS

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