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Roselaine Monteiro Moraes
Gestora de Políticas Públicas Sebrae RS
Em tempos em que as relações sociais estão cada vez mais em evidência, os conceitos sobre ações cooperadas, senso coletivo, confiança e novos arranjos institucionais e interorganizacionais ganham força. Esses conceitos são definidos como empreendedorismo institucional.
Nesse contexto, o empreendedorismo institucional decorre do envolvimento dos atores que unem esforços para solução de problemas centrais. Compromisso, entendimento, confiança, regulação e controle são pressupostos que norteiam o conceito. Os empreendedores institucionais buscam introduzir novas práticas e sentidos para sua atuação coletiva de modo que se gere desenvolvimento.
A mobilização das pessoas em torno de um propósito tem sido um caminho para gerar engajamento e busca de resultados de transformação, tendo importância um novo arranjo institucional.
Elementos potencializadores
Estudos indicam que alguns elementos potencializam a ação desse tipo de empreendedor, tais como: a reflexividade autônoma, a performatividade e as habilidades analíticas, sociais, políticas e culturais.
Compreender como esses elementos contribuem na formação de empreendedores institucionais pode ser um ponto de partida para indivíduos que buscam inovações nesse campo de estudo, com vistas a modificar – ou até mesmo sugerir – novos arranjos institucionais.
No que tange à reflexão autônoma, o pensamento para a ação está mais centrado na preocupação individual, sendo esta mais relevante e menos concentrada na lógica institucional (grupo), o que pode gerar um conflito entre ambas (pensamento para ação individual X pensamento para ação coletiva). Desse modo, o indivíduo procura influenciar a lógica institucional a partir do seu pensamento para a ação individual. E, nesse sentido, o pensamento para a ação institucional vai sendo construído de acordo com a reflexão autônoma de cada indivíduo.
Já a performatividade diz respeito às performances individuais, sendo importantes na medida em que ressaltam o papel de atores e suas habilidades em criar novas alternativas que visem alcançar um objetivo comum.
Em relação às habilidades analíticas, estas requerem um olhar dos atores voltado à capacidade de planejamento, de identificação dos recursos, existentes e disponíveis, de forma racional/lógica.
Nas habilidades sociais, entram em cena as capacidades de negociação, de persuasão, de relacionamento em rede, de conexão entre os atores, visando cooperação e fortalecimento das relações de confiança.
Já nas habilidades políticas, a capacidade de negociação é fator importante no que diz respeito à mobilização de grupos e organizações com a finalidade de buscar uma aliança entre instituições. Assim, lançar mão de instrumentos legais e de mecanismos de regulação pode ser proveitoso, uma vez que se vislumbra uma agenda comum entre as partes.
As habilidades culturais se referem à compreensão do funcionamento de grupos. Nesse aspecto, entender o contexto, as regras, as normas e as crenças que norteiam os grupos é fator de extrema relevância para uma atuação coletiva.
Nessa ótica, a compreensão e a utilização dos elementos apresentados podem ser úteis na constituição de um novo arranjo ou empreendedorismo institucional.
Case de sucesso
Um exemplo de instituição que utiliza os conceitos do Empreendedorismo Institucional é a Escola Convexo, um empreendimento social voltado para a área educacional que tem como finalidade gerar o desenvolvimento sustentável educacional, social e econômico de comunidades carentes. Jovens entre 7 e 17 anos são estimulados a construírem soluções para resolver problemas comuns. A Convexo busca engajar colaboradores, empresas, alunos, pais, professores e a sociedade na participação de projetos que podem mudar a realidade da comunidade. A escola lança mão da metodologia Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL), enquanto são desenvolvidas competências socioemocionais, e todos os envolvidos resolvem problemas reais da região em que estão inseridos.
Para Bruno Bittencourt, cofundador da Escola Convexo, durante o processo metodológico é possível perceber alguns elementos importantes do Empreendedorismo Institucional. O primeiro deles é o engajamento comunitário. “Os projetos desenvolvidos dentro da escola transcendem as salas de aula e envolvem professores, pais, organizações e comunidades nas soluções de problemas sociais. Outra questão interessante de se observar é que esse processo começa com uma reflexão autônoma de cada indivíduo, uma vez que o autoconhecimento e a descoberta de superpoderes são pontos de partida da metodologia. A Convexo trabalha numa lógica de maximizar as potencialidades, seja do indivíduo, como da região. Desse modo as habilidades culturais são levadas em consideração nesse processo de aprendizagem e desenvolvimento, favorecendo o envolvimento comunitário com os projetos”, analisa.
Por fim, Bruno destaca que cada ciclo do processo resulta na entrega de um legado, ou seja, uma benfeitoria para o ambiente escolar ou comunidade, podendo se visualizar mais um elemento: a perfomatividade.
Ao compreender os elementos que tangenciam os conceitos de empreendedorismo institucional, parece possível criar ou fortalecer grupos e instituições que visem uma atuação com foco nas transformações e inovação social.
Portanto, os empreendedores institucionais são vistos como atores sociais que produzem, disseminam, compartilham regras e novas práticas e resolvem problemas centrais. Além disso, desacomodam padrões existentes, dando lugar ao novo.
Referenciais:
OMETTO, M. A.; LEMOS, EVELIN LUCHT. Empreendedorismo institucional, agência e mudança institucional: uma contribuição ao institucionalismo organizacional. XII Semead-Seminários em Administração, 2010.
BARATTER, Marystela Assis; FERREIRA, Jane Mendes; COSTA, Mayla Cristina. Empreendedorismo Institucional: características da ação intencional. Perspectivas Contemporâneas, 2010. Disponível AQUI.
(Acessado em: 24 agosto, 2018).
Escola Convexo – Unindo Mundos, Transformando Pessoas.
(Acessado em: 15 setembro, 2018).
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