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Mitos e realidades na integração lavoura e pecuária

atualizado em: 06/11/18
Jamir Luis Silva da Silva

Jamir Luis Silva da Silva

Pesquisador Embrapa Clima Temperado Pelotas

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A integração lavoura e pecuária é um modelo de produção agrícola do qual precisam ser conhecidos e entendidos os fatores que interferem na interface solo-planta-animal-clima

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A integração lavoura e pecuária é um modelo de produção agrícola do qual precisam ser conhecidos e entendidos os fatores que interferem na interface solo-planta-animal-clima. Esse modelo não é novo. É uma filosofia de trabalhar com o solo de forma conservacionista, de trabalhar com os animais de forma harmoniosa e de trabalhar com as plantas forrageiras e plantas de lavoura de forma a obter destas produtividade adequada com o meio ambiente.

É importante destacar que, quando se trabalha com pastagens (pressupondo animais) e culturas, há dois sistemas biológicos distintos, ou seja, o crescimento e desenvolvimento das plantas em função das condições de meio ambiente; e o crescimento e desenvolvimento dos animais em função do meio ambiente e da forragem produzida e disponibilizada a eles.

Integração de cultivos

A integração de cultivos com animais pode ocorrer em duas vias predominantes, ou seja, as pastagens e os animais podem entrar em áreas de lavouras ou as culturas de lavouras podem ser estabelecidas em áreas de pastagens, principalmente com a finalidade de recuperar algumas pastagens degradadas. Na primeira via, culturas como arroz, soja, milho, feijão ou trigo podem ser estabelecidas em sucessão com pastagens anuais na época complementar, dentro do ano, ao seu cultivo. Esse sistema pode ser usado por agricultores que queiram incorporar os animais em seu sistema de produção. Na segunda via, as culturas são utilizadas em áreas de pecuária, ou seja, para recuperação de áreas de pastagens degradadas, nas quais poderá o pecuarista usar o benefício da receita mais rápida para melhorar a fertilidade do solo.

Em ambos os casos, a integração lavoura e pecuária traz consigo alguns mitos que precisam ser esclarecidos, não de forma empírica, mas com a clareza e a luz da ciência visando o entendimento e o domínio de técnicas de produção.

  1. O primeiro MITO apresentado é que o animal é um compactador e um agente nocivo ao solo e às culturas na sucessão das pastagens. Este aspecto já é bem conhecido no meio científico. O animal por si só é um agente causador de adensamento de solo, pois no ato do pastejo este indivíduo está se movimentando e pisoteando sobre o solo e sobre a vegetação existente. Mas essa vegetação é constituída de plantas forrageiras, com grande capacidade de proteção do solo. Entretanto, o fator decisivo neste momento é a intensidade de pastejo, que é regulada pela carga animal. Este aspecto, sim, é o grande causador de compactação de solo, ou seja, a lotação animal colocada sobre as pastagens. Na grande maioria das situações, os produtores trabalham com lotações exageradas e aí o resultado é um só: perda de solo, perda na produção animal e perda de produção da cultura na sequência, mas o problema continua não sendo o animal.
  2. O segundo MITO: “não tenho as máquinas” para quem é pecuarista ou “não tenho os animais e as instalações” para quem é agricultor. Então, o problema pode ser resolvido com as parcerias, que são formas inteligentes e práticas de trabalhar na agropecuária. É claro que para isso há a necessidade de “união e trabalho em conjunto, pensando em integração”, não pensando no seu sistema individual, mas dentro de um contexto holístico ou de cadeia produtiva.
  3. O terceiro MITO é que o animal é um grande extrator de nutrientes do solo. Na verdade o animal, quando lhe é permitido, seleciona muito bem a sua dieta. No entanto, ele devolve ao solo na forma de fezes e urina em torno de 90% dos nutrientes minerais por ele ingeridos. E, bastante importante, o ruminante é um grande acelerador na ciclagem de nutrientes, pois os microrganismos do rúmen exercem a função de quebrar as partículas das plantas e transformá-las em formas mais facilmente degradadas ao nível de solo, acelerando a mineralização dos nutrientes e liberação para serem reaproveitados pelas plantas.

Então, integração lavoura e pecuária não é só colocar animais em áreas de sucessão de lavouras ou vice-versa, é dominar conhecimento e tecnologia, visando sustentabilidade ambiental e produção de alimentos competitivos e com qualidade.

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