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Maria Zeli Stelmack Rodrigues
Sócia da e-Saberes Consultoria e Educação
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A morte é vista com preconceitos e medos: em nossa cultura, raramente se fala de forma aberta sobre a mortalidade. Nos hospitais, trata-se de um acontecimento silencioso, cujos vestígios são rapidamente eliminados. A sociedade busca afastar o fantasma da morte com artifícios como o mito da juventude eterna e a ilusão de que a medicina não só prolongará a vida, mas descobrirá a fórmula da imortalidade. Neste ambiente, fica extremamente difícil se enxergar mortal.
Os avanços do final do século 20 e os progressos da ciência nos dão a chance de viver muito mais, o que ainda não significa morrer melhor. A partir disso, é natural que nos cursos da área da saúde, como medicina e psicologia, a morte passe à margem e não seja estudada de forma profunda. Ao se deparar com um paciente em terminalidade, é comum que o profissional não saiba como agir, não raro o tratando de forma fria como mecanismo de defesa.
Parece-nos que ao sermos tocados pela ideia da nossa própria morte como uma realidade, uma forma de diminuir este impacto é nos preparando e falando sobre ela. É tornar realidade o que a palavra expressa: apenas conscientes sobre nossa mortalidade valorizamos e damos sentido à nossa vida.
O paciente terminal necessita falar sobre a morte. No entanto, a equipe que o atende e os familiares evitam o assunto, fazendo de conta que ela não irá acontecer. O trabalho do psicólogo é justamente ser alguém que falará abertamente do assunto, ajudando a trazer seus medos, angústias e desejos, porque isso significa ter alguém com quem atravessar esse momento e estar mais em paz.
Os hospitais, em seu processo de humanização, têm buscado fazer com que o paciente morra no seu lar cercado dos seus afetos, e não em um ambiente que só ocupou durante a doença.
A tarefa de ajudar o paciente na terminalidade deve ser cumprida por uma equipe multidisciplinar, um modelo ideal, mas que enfrenta dificuldades para ser aplicado no dia a dia dos hospitais. No momento da terminalidade é muito importante que a equipe tenha a mesma abordagem e, sobretudo, que até o último momento o paciente possa ter acompanhamento da enfermagem, do médico, do psicólogo e do nutricionista.
O papel da família não pode ser relegado: ela também necessita da atenção da equipe. É preciso ajudá-la na caminhada de reconhecimento da terminalidade para que possa auxiliar, com a presença e o afeto, o familiar a caminhar neste último percurso.
A psicóloga Bel Cesar, em seu livro “Morrer não se improvisa” (2015), destaca a importância de ajudar os pacientes terminais a morrerem tranquilos. Esta tranquilidade vem da possibilidade de encarar a realidade, mas ao mesmo tempo de reunir as construções de sua vida, incluindo os afetos.
Nesse trabalho, a psicóloga traz a sua experiência no ambiente hospitalar, com o projeto onde o psicólogo ajuda seus pacientes a morrerem a partir de uma crença ou de sua espiritualidade e se aplicam técnicas de “mindfulness”, que ajudam a melhorar a ansiedade. Este olhar, que a ciência tem desprezado, tem sido um dos caminhos para uma morte mais tranquila. A equipe não só deve respeitar, mas trabalhar conjuntamente este aspecto. Isso é trabalhar a integralidade do paciente, é respeitá-lo inclusive na sua dimensão espiritual. Quando abordamos e mencionamos o termo humanização, um dos seus aspectos está ligado ao exercício de crenças por parte do paciente.
Naturalmente, a terminalidade exige um trabalho intenso com a família, que em vez de ser encarada como mais um fator de estresse para as equipes pode se tornar uma aliada nos cuidados com o paciente, dando o carinho que este necessita. Na terminalidade de uma pessoa muito próxima, eu ouvia todos os dias da coordenação da equipe multidisciplinar que nossas presenças e afeto eram a melhor medicação. São nestes momentos finais que a própria medicina reconhece sua impotência diante da morte.
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